quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sri Lanka: um paraíso no Índico



Quando escrevo sobre uma viagem provavelmente já se passaram semanas ou até meses desde que visitei esse lugar. Enquanto que, por um lado, os cheiros e os pormenores dessa viagem possam já não estar tão presentes na minha memória; por outro lado, há um tempo necessário para deixarmos passar a adrenalina e a excitação do momento e reflectirmos sobre aquilo que experienciamos e as consequências disso. Visitei o Sri Lanka em Outubro do ano passado e apaixonei-me. Sabem aquela sensação de que vamos adorar um lugar sem nunca o termos visitado? Foi exactamente isso. Eu já adorava o Sri Lanka mesmo sem nunca lá ter posto os pés. As expectativas eram muito elevadas, e conseguiu ser ainda melhor. O Sri Lanka está definitivamente no meu Top 5 de países preferidos. Mas visitar este país também me deixou marcas irreversíveis e deixou-me um sabor agridoce. Fiquei imenso tempo a olhar para o computador, à minha frente estava uma página em branco, esta mesma página que agora está cheia de letras e fotografias. Demorei tanto tempo a escrever estas palavras e mesmo agora que as estou a escrever não estou bem segura do que quero exprimir.


Dia 1:


Dormi duas horas. Tínhamos que sair bem cedo do hotel porque a viagem de Colombo, capital do Sri Lanka, até Kegalle duraria cinco horas. Cinco horas de curvas apertadas; estradas sinuosas; ultrapassagens perigosas; cães, muitos cães, a dormirem quase no meio da estrada; e sempre rodeados pelo verde que abunda e dá cor ao Sri Lanka. Mas isto tudo nós ainda não sabíamos quando nos fizemos à estrada naquela madrugada.





Parámos para beber um sumo de frutas natural e comer alguma coisa. Um ano depois de viver na Ásia, a minha tolerância às especiarias picantes ainda está muito aquém do esperado. Não consegui engolir os pastéis de carne que me chamaram a atenção no expositor do pequeno café/restaurante ao pé da estrada.

Seguimos a estrada até Kegalle, onde fica o famoso Orfanato de Elefantes de Pinnawala. Os elefantes era tudo o que eu mais queria ver no Sri Lanka. Até passarmos pelo orfanato e não termos parado, eu acreditava que na verdade iria visitar o lugar onde os elefantes-bebés e os elefantes feridos são tratados e vivem na área de Pinnawala. Na verdade, continuámos o nosso caminho até à "Elephant Village", um dos vários locais em Kegalle onde é possível andar de elefante, alimentá-los, dar-lhes banho.






Chegámos. Mal consegui suportar o facto de ter que ir à casa de banho primeiro, porque o meu corpo exigia isso de mim, e não poder ir logo a correr em direcção aos elefantes como uma criança que acaba de chegar ao parque de diversões. Havia apenas três ou quatro elefantes. Enormes. Tive medo de me aproximar imediatamente. Ainda não tinha ganhado a confiança dela. Sim, era uma menina de 36 anos: a Koeni. As correntes perturbaram-me. Não estava mal tratada, aliás nenhum dos elefantes que ali estavam tinham sinais de maus-tratos, nem em nenhuma circunstância os tratadores tiveram alguma atitude violenta perante os elefantes. Alguns minutos depois de pagar os 2500 rupees (cerca de 17 euros), já estava montada na Koeni. Ignorando as suas correntes, a sua vontade de carregar-me até ao riacho e tomar banho lá, talvez a sua vontade de correr livre e viver com os da sua espécie, na minha atitude de animal racional e ser superior. Não faço ideia se a Koeni nasceu e cresceu em cativeiro ou foi domada posteriormente, mas envergonha-me perceber que uma das melhores experiências da minha vida possa ter sido acontecido à custa do sofrimento de animais. Não necessariamente da Koeni ou os seus amigos da "Elephant Village", em particular, mas devido ao dinheiro que o uso de animais para fins turísticos gera, podendo levar ao abuso e maus-tratos desses mesmos animais. Três meses depois, ainda me pesa na consciência ter contribuído para este negócio e, pior do que isso, por ter adorado o momento.









A descida até ao riacho foi dolorosa. Em cima do elefante conseguimos sentir cada vértebra da coluna a mexer-se e é desconfortável. Provavelmente também é desconfortável para o elefante. A pele é extremamente áspera e rugosa e os pequenos pêlos espalhados por todo o corpo oferecem uma sensação estranha mas ao mesmo tempo agradável ao toque.





O tratador explicou-nos que os elefantes adoram deitar-se na água e receber massagens com casca de coco.












Da vila dos elefantes partimos em direcção ao "Spice Garden" (jardim das especiarias). O povo do Sri Lanka privilegia o uso de remédios e mezinhas naturais em vez de recorrer ao medicamentos produzidos industrialmente pelas farmacêuticas. Há sempre uma erva, um óleo, ou um fruto para resolver qualquer maleita. Rugas e celulite? Óleo de madeira de sândalo é a solução. Dor de dentes ou de ouvido? Nada que o óleo de canela não resolva. Queda de cabelo? Parece que o tónico de coco faz milagres.













Como era previsível, os produtos eram extremamente caros, o que é compreensível por serem naturais e produzidos manualmente e com poucos recursos. Ainda assim, recebemos uma massagem grátis feita com os óleos de massagem naturais. A entrada no jardim é gratuita.






O Sri Lanka é famoso pela qualidade dos seus chás. A produção de chá é uma das maiores fontes de receita do país. E até nós, portugueses, por lá andámos nos séculos XVI e XVII a provar os maravilhosos chás do antigo reino de Ceilão. Por tudo isto, a visita à Fábrica de chá Glenloch estava mais do que justificada.











Dia 2: 


O trânsito caótico de Colombo

No segundo dia o destino foi Negombo. Uma cidade costeira e extremamente turística. Para além do turismo, os habitantes de Negombo vivem da centenária indústria da pesca, que remonta ao período das colonizações portuguesa e holandesa. Ainda hoje, o chamada "Canal Holandês" é usado pelos pescadores para chegar até ao mar.








A primeira paragem foi o templo budista "Agurukaramulla". Descalcei-me à entrada do templo. E caminhei um pouco no chão de terra batida. Logo um gatinho bebé se aproximou de mim e entrelaçou-se nas minhas pernas para não mais me largar. O chão do templo estava sujo, mas eu não me importei. Foi sempre assim durante a minha visita ao Sri Lanka: não me importei que a água do riacho da vila dos elefantes estivesse suja, ou que os petiscos vendidos à beira da estrada não tivessem sido preparados de forma higiénica, ou que o chão do templo estivesse sujo. Ali, tudo isso me pareceu irrelevante e desnecessário.


















Casa de estilo colonial







O Sri Lanka é conhecido pelas suas praias, onde a fina areia dourada que vai ao encontro do oceano índico. As grandes ondas do sul da ilha são um paraíso para os surfistas. A praia em Negombo, chamada de "Brown's beach", não será propriamente a melhor praia do Sri Lanka, mas os locais divertem-se nas águas quentes do índico, enquanto o sol se põe lentamente no horizonte.












Com os meus petiscos um tanto ou quanto oleosos na mão comprados num dos várias carrinhos ambulantes espalhados pela praia, e a pensar que ainda queria visitar uma igreja católica antes do anoitecer, sou abordada por um senhor de cadeira de rodas. No seu pobre inglês, queria saber de onde era. Queria essencialmente meter conversa e pedir uma esmola. Mas depois de saber que era portuguesa mostrou todos os seus dotes vocais e cantou-me a famosa canção infantil sobre a os navegadores portugueses que "por mares nunca antes navegados passaram ainda além da Taprobana" (nome clássico da ilha de Ceilão, agora Sri Lanka). Já me tinham dado a conhecer a canção e sei, de um modo geral, que a letra não é muito simpática para os portugueses. Basicamente e de uma forma irónica, a canção diz que os portugueses são bons a conquistarem outros povos. De qualquer forma, sempre que me cantaram essa música foi com boa intenção e num esforço de me mostrar que temos uma história em comum, uma história que eu desconhecia que tinha marcado tanto aquela gente e que tinham tanto carinho por nós. A minha última paragem foi a igreja de São Sebastião, por falar em heranças da colonização. O cristianismo é um dos legados que podemos ver deixados pelos portugueses e pelos holandeses.









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