quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Geórgia: viagem à Eurásia



Geórgia. Sim, aquela que fica no Cáucaso, entre a Europa e a Ásia. Não tem nada a ver com o estado norte-americano. Tbilisi, a capital e maior cidade da Geórgia, é um daqueles locais que eu nunca pensei que visitaria, mas ainda bem que tive a oportunidade de conhecer, porque foi uma agradável surpresa.

Li há pouco tempo uma notícia que dava conta dos países com maior probabilidade de verem a sua paz deteriorada e entrarem em conflitos armados nos próximos anos. Não me recordo onde li nem que organização fez o relatório, mas lembro-me que a Geórgia era um desses países. Depois da dissolução da União Soviética, a Geórgia voltou a ser uma país independente, em 1991. Contudo, as regiões da Abecásia e a Ossétia do Sul, reconhecidas internacionalmente como parte da Geórgia, estão sob ocupação russa e proclamam a sua independência da Geórgia. É por isto e por muitas outras razões que a História explica que os georgianos não vão muito à bola com os russos, e vice-versa. No entanto, o russo é largamente falado no país, mas a língua oficial no país é o georgiano. Foi a primeira vez que vi palavras escritas em georgiano e fiquei muito surpreendida porque utiliza um alfabeto que não se parece com nada que eu alguma vez tenha visto, é algo completamente diferente das línguas europeias. A situação económica ainda é frágil e há poucas oportunidades de trabalho para uma população bastante envelhecida devido ao grande fluxo migratório das camadas mais jovens, em especial para a Rússia. Há muitos mendigos pelas ruas, especialmente nas zonas mais turísticas da cidade. De qualquer forma, Tbilisi pareceu-me uma cidade bastante calma e segura, e em nenhuma situação senti medo. 






Dia 1: 

No primeiro dia, saímos do hotel e vagueamos pelas ruas, escolhendo caminhos ao acaso e ignorando o nome das ruas e o nome ou função dos edifícios por onde passávamos. Tínhamos no entanto uma missão: encontrar um restaurante onde pudéssemos provar a comida e o vinho locais.








"Tbilisi dancing Berikaoba (National Georgian Holiday) Ring statue"


Rua Shavteli na parte velha da cidade

O agradável alpendre (ou a extrema fome) fizeram-nos parar no "Gabriadze Cafe". Quando não faço a mínima ideia do que pedir, pergunto sempre ao empregado de mesa qual o seu prato preferido do menu e peço exactamente isso. Foi o que fiz aqui também, mas não me correu muito bem, porque não gostei muito do petisco. Valeu pelo vinho e o prato de queijos.

"Tsinandali white dry"

Queijos da Geórgia, extremamente salgados

"Mengrelian kharcho" (carne de vaca com um molho de sabor intenso)
Torre do relógio na rua Shavteli, lá dentro é um teatro de marionetas


À espera das 19h para o espectáculo do relógio




Depois do almoço/jantar e do espectáculo do relógio, seguimos em direcção ao rio que atravessa Tbilisi: o rio Mtkvari, que nasce nas montanhas do Cáucaso e faz o seu caminho até desaguar no mar Cáspio.


Não, não são velas, como pensámos inicialmente! É "churchkhela", o doce
nacional da Geórgia, feito com sumo de uva, nozes e farinha. Provei a medo,
porque continuei a acreditar que eram velas. O sabor não me convenceu.


"Peace Bridge"



"Kartlis Deda", "Mother of Georgia", símbolo de Tbilisi

O Forte de Narikala, visto da ponte

Novo teatro com uma arquitectura moderna.
Palácio Presidencial ao fundo, visto da ponte.

Eu não percebo nada de vinhos. Aliás, nem sequer sou apreciadora como consumidora. Por isso, não fazia ideia que a história da Geórgia e a história do vinho andavam de mãos dadas durante séculos. Acredita-se que foi nesta zona que se produziu pela primeira vez vinho. O território que hoje conhecemos como Geórgia é provavelmente a região vinícola mais antiga do mundo. A produção de vinho tem um enorme peso na economia e é parte intrínseca da cultura do país. O método usado na Geórgia para a produção de vinho foi elevado a Património Imaterial da UNESCO. O nosso guia dizia até que os georgianos desconfiam das pessoas que não bebem vinho nem comem carne. Aqui venera-se Dionísio, o Deus grego do vinho e das festas.

Uma das muitas caves/lojas de vinho, onde é possível experimentar vinhos georgianos
gratuitamente e ouvir os verdadeiros entendidos a declararem o seu amor pelo líquido mágico







Dia 2:

O dia começou bem cedo. O guia esperava-nos no lobby do hotel para uma visita à cidade de Tbilisi e a outras cidades próximas. Tité, o guia, é talvez uma das personagens mais caricatas que já se cruzaram no meu caminho. Nos seus 23 anos é uma espécie de "self-made man" que viu que podia tirar proveito do turismo na região, mesmo sem qualquer curso universitário relacionado. Diz que foi estrela da bola num qualquer clube na vizinha Turquia e ingressou no curso de Direito, mas não concluiu. É inteligente e tem um grande conhecimento sobre a História do seu país e do mundo, só peca por ser demasiado nacionalista e patriota e achar que a Geórgia é o centro do universo. Odeia os russos e os turcos, e basicamente todas as nacionalidades que não sejam georgianos. E diz que Estaline ganhou (sozinho) a II Guerra Mundial. Discordâncias à parte, foi uma interessante viagem pela História da Geórgia.






Começamos por subir a um pequeno penhasco com vista sobre o rio, onde fica a igreja "Metekhi". Os georgianos são na sua maioria cristãos ortodoxos.

Igreja "Metekhi"


"Peace Bridge"



Estátua do Rei Vakhtang Gorgasali





Descemos até "Abanotubani", zona antiga da cidade, onde ficam as termas e onde podemos ver construções que remontam ao século XVII. A palavra "Tbilisi" significa exactamente "hot springs" ("fonte termal", em português).























A visita a Tbilisi não ficaria completa sem uma curta viagem de teleférico do "Rike Park" até ao cimo da montanha onde fica a grande estátua "Kartlis Deda" e o Forte de Narikala. A viagem é rápida e quase que nos apetece pedir para abrandar na subida para apreciarmos cada centímetro da cidade lá do alto. 














É hora de deixar a capital e partir para outros pontos de interesse na Geórgia. Tbilisi é de longe a maior e mais populosa cidade do país. Ao sairmos de Tbilisi em direcção ao Mosteiro "Jvari", na região "Mtskheta-Mtianeti" na parte Leste da Georgia, percebemos a desertificação do resto do país. As estradas (nem sempre as mais bem tratadas) levam-nos pelo interior do país, as montanhas acompanham-nos sempre durante a viagem. "Que montanhas são aquelas?" pergunto ao guia apontando para as enormes montanhas que nos acompanhavam há alguns minutos. "É o Cáucaso!", responde sem disfarçar a surpresa pela pergunta. Depois de vários quilómetros de paisagem desértica, passámos por uma zona com milhares de simples casinhas exactamente iguais muito perto das montanhas. O guia diz-nos que ali vivem os georgianos que foram expulsos da Ossétia do Sul aquando do conflito com a Rússia. Aquilo que vimos era uma espécie de campo de refugiados, portanto.






Local de Peregrinação: Senhora sobe as escadas e joelhos até ao Mosteiro


Os rios Mtkvari e Aragvi confluem


Mosteiro Jvari significa Mosteiro da Cruz










O dia já vai longo e a hora de almoço já passou há muito. Há fome e sede, mas sobretudo há muita vontade de conhecer as já muito publicitadas pelo nosso guia iguarias georgianas regadas com vinho do país. Seguimos viagem até ao restaurante "Mtskhetis Salobie", um agradável espaço ao ar livre de cozinha tradicional, um lugar onde as famílias se juntam e partilham petiscos numa solarenga tarde de Sábado. 

Khinkali: pastéis de massa cozidos recheados com carne, cogumelos ou queijo.



Depois do almoço, seguimos para a cidade industrial de "Gori", local que viu nascer Estaline. Era um dos pontos altos da viagem para mim, porque prometeram-me que poderia visitar a casa do líder soviético. Infelizmente, chegámos tarde e a casa/museu já estava fechado. 

Comboio pessoal de Estaline



Estrutura que protege a humilde casa de Estaline


Casa onde nasceu Estaline


O almoço foi óptimo, mas perdemo-nos nas horas e na conversa sobre uma mesa tão farta. Quem pagou as consequências foram as Caves Uplistsikhe. Tivemos que acelerar o passo para ainda conseguirmos visitar a ancestral cidade esculpida na pedra antes do anoitecer. As caves ocupam cerca de 40 mil metros quadrados e têm cerca de três mil anos. Uplistsikhe é uma mistura de períodos e estilos: desde as influências da Turquia (Capadócia) até ao Irão.












A paisagem é magnífica e a luz do pôr-do-sol tornou-a ainda mais bonita e deu origem a fotografias deliciosas. Valeu a pena corrermos para vermos este espectáculo de perfeita harmonia entre o Homem em conjunto com a mãe natureza. Foi a cereja no topo do bolo que foi toda esta viagem à Geórgia.











Dia 3:

No último dia em Tbilisi ainda houve tempo para uma visita ao Museu Nacional da Geórgia. O museu e a sua colecção não me impressionaram muito, mas vale sempre a pena uma visita e o bilhete é muito barato. A exposição sobre a ocupação soviética na Geórgia é muito interessante.