sábado, 18 de outubro de 2014

Cabo Verde tem Sal



Cabo Verde é tudo menos verde. Bem, até pode ser verde em algumas das dez ilhas do arquipélago, mas quem aterra da ilha do Sal encontra muito pouco de verde na paisagem. O Sal é uma espécie de deserto flutuante no meio do Oceano Atlântico. O Sal é uma estrada de asfalto, plana, em linha recta, e sem fim, rodeada por uma paisagem árida e, lá ao fundo, a água translúcida do mar que nos acompanha sempre onde quer que vamos.

Aterrar no aeroporto do Sal à meia-noite, como nos aconteceu, pode ser uma experiência um pouco assustadora até. Está escuro, o aeroporto tem muito pouco movimento, os taxistas lutam ferozmente por conseguirem que entremos no seu carro, e o caminho até à vila de Santa Maria é longo e iluminado apenas pela Lua e estrelas.



Este Verão decidi que não queria cidades com grandes edifícios, nem queria ver museus, nem tão-pouco me apetecia andar por ruas a abarrotar de turistas. Este Verão só queria uma toalha estendida na areia e o mar a estender-se à minha frente. Este Verão queria ter o sol e uma bebida refrescante na mão. Este Verão era só eu e a minha família. A vida pacata da ilha do Sal parecia então ideal para aquilo que procurava e, apesar do intenso fluxo de turistas na ilha, há espaço para todos nos vários resorts e hotéis.

Cabo Verde é "morabeza", uma palavra difícil de traduzir, mas que significa algo como amável, afável, gentil, simpático. O Sal é a ilha do "no stress" por excelência, onde toda a gente se conhece e a vida corre tranquila e feliz.

Nós optámos por ficar instalados no Riu Funana, situado na vila de Santa Maria, como grande parte dos hotéis e resorts da ilha, uma vez que esta é a zona de maior concentração de turistas. O Riu Funana tem um preço razoável dentro do género resort com a pulseira mágica no pulso que dá acesso a tudo, incluindo comida e bebida 24h. Há actividades durante todo o dia, espectáculos e a discoteca Pacha à noite.







Ovos de tartarugas à espera de serem adoptadas













As ondas do Sal são famosas entre a comunidade surfista




Na praia do hotel há uma loja de mergulho, o "Scuba Caribe", com todo o equipamento necessário e instrutores. Logo nos primeiros dias fui experimentar fazer snorkelling. Depois de ter feito nas Maldivas, não estava com grandes expectativas em relação ao snorkelling ou mergulho no Sal. De qualquer forma, foi ainda mais decepcionante. A água dos locais onde estivemos eram um pouco turvas e agitadas, e a variedades de peixes era pouca. Nem as famosas tartarugas da ilha salvaram o dia.








É bom estar no resort a comer e beber a todas as horas; de manhã praia e à tarde piscina; à noite espectáculo de música e dança, seguido por um pézinho de dança na discoteca do hotel. A vida é bela e eram estas as férias que eu mais queria. Ao fim de três dias já conhecia todas as caras das pessoas que se passeavam pelo hotel e já tratava os empregados e animadores por tu, o que não é necessariamente mau, mas cansa um pouco o aprisionamento que umas férias em resort geram. Descobri que não sou um peixe de resort e no último dia fomos finalmente visitar a pequena ilha do Sal. O meio preferido dos turistas do Sal para explorar a ilha é alugar uma carrinha pick-up com condutor incluído e, sentados na parte traseira e aberta da carrinha, partir à descoberta. Foi isso mesmo que fizemos: alugámos o Roberto e a sua carrinha e ainda tivemos como bónus a Lady, a nossa guia. 




Começámos por fazer uma curta paragem na bonita e pitoresca Vila da Murdeira, não muito longe de Santa Maria.



Lá ao fundo a chamada Pedra Leão, devido à sua forma



Seguimos para a capital da ilha do Sal: Espargos. Apesar de concentrar 70% da população da ilha, não tem nenhum relevante ponto turístico e é mais um local de passagem. Parámos em Espargos apenas para subirmos ao Monte Curral, onde se pode ter uma vista de 360º sobre a vila. 



Vista do Monte Curral sobre Espargos





Igreja cheia na manhã de Domingo




A caminho da vila piscatória de Palmeira, passámos pelo centro da capital Espargos e pudemos ver um pouco como vivem as pessoas do Sal, longe dos luxuosos resorts de Santa Maria. As casas são muito simples e as construções aparentam ser frágeis. Aliás, é raro vermos uma casa completamente construída até ao telhado, ficando-se normalmente pelo segundo andar. Os cabo-verdianos fazem a sua vida normalmente, indiferentes aos turistas que passam pela pequena vila em busca de outros pontos mais turísticos, sentados nas traseiras das carrinhas de caixa abertas, qual safari na savana! As crianças brincam alegremente e descalças pelas ruas.






O S.L.Benfica é tratado como o clube da terra




Já na vila de Palmeira a vida é ainda mais pacata e o tempo passa vagarosamente entre uma cerveja, uma partida de ouri e dois dedos de conversa sobre o Benfica. A pequena vila piscatória é acolhedora e adorável com as suas casas pintadas com cores vivas. Este é o local perfeito para nos envolvermos no espírito cabo-verdiano e estarmos em contacto mais directo com os locais. Aqui há também imensos senegaleses a tentarem vender de forma insistente artesanato e outros souvenirs aos turistas que por ali passam, o que acaba por irritar os cabo-verdianos.





Cabo-verdianos a jogarem o popular jogo africano Mancala
ou Ouri, como lhe chamam em Cabo Verde


Palmeira é essencialmente uma vila piscatória















Mercado Municipal em Palmeira




Deixámos para trás Palmeira e a estrada recta de asfalto que atravessa a ilha de uma ponta a outra, e enveredámos pelos caminhos tortuosos de terra batida em busca da famosa Buracona ou "Olho Azul". Este buraco enorme misteriosamente esculpido na rocha de lava adquire o tom de azul quando o sol reflecte na água.





Buracona




Continuámos pelos caminhos de terra em direcção às Salinas de Pedra de Lume, mas antes ainda demos um pulinho a Terra Boa, onde é possível ver o que os cabo-verdianos chamam de "Miragens". Aqui, a terra é árida e parece que estamos mesmo no deserto. Se olharmos na linha do horizonte temos a ilusão de ver água lá ao fundo.







As Salinas de Pedra de Lume já foram as maiores de Cabo Verde, e encontram-se na cratera de um vulcão. Numa parte das salinas pode-se tomar banho, e devido à grande concentração de sal nunca se vai ao fundo.














De volta ao asfalto, desta vez seguimos para a Baía de Parda, onde se tivermos sorte podemos ver os tubarões a nadarem aos nossos pés. Nós não tivemos muita sorte, porque a grande afluência de turistas e o mar agitado afugentaram os pequenos e inofensivos tubarões. O auge da expedição em busca dos tubarões foram umas barbatanas avistadas ali e acolá, bem afastadas de nós.












O dia terminou com o regresso à turística vila de Santa Maria, local de praias de areia fina e branca e onde o mar é mais azul e tranquilo. E é aqui que percebemos porque é que tantos turistas vindos de todo o mundo vêem em Cabo Verde e na ilha do Sal um local paradisíaco e ideal para umas férias de sonho.










Locais a preparar o peixe







Obrigada à Lady e ao Roberto!