quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A segunda vez é melhor

Tive a oportunidade de visitar Jacarta de novo, por isso decidi que desta vez iria ser diferente: não deixaria que o cansaço da viagem me prendesse no quarto de hotel, e iria pesquisar mais sobre a cidade antes de lá voltar.

No primeiro dia decidi ir visitar a catedral de Jacarta (Cereja Katedral Jakarta). Ignorando todos os conselhos dos funcionários do hotel que me avisaram que era hora de ponta e que seria impossível fazer o percurso em menos de uma hora. O trânsito em Jacarta é completamente louco e fiquei sem perceber qual era a hora de ponta, porque a qualquer hora do dia era impossível fazer qualquer trajecto sem filas e "buzinadelas". De qualquer forma, decidi arriscar e ir para o centro da cidade.


Do outro lado da rua, há uma mesquita (Masjid Istiqlal Mosque), a maior da Indonésia e do sudeste asiático. O maior problema: atravessar a estrada. Havia semáforos, havia uma passadeira para peões, mas os carros não paravam, até mesmo quando o sinal estava verde para os peões. Como é que eu iria atravessar a estrada assim? Ao meu lado estava um jovem que parecia estar com o mesmo problema que eu. Perguntei-lhe: "Como é que se atravessa a estrada em Jacarta?" Pensei em todos os ensinamentos dos meus pais: parar, escutar, olhar para os dois lados da rua, e só depois avançar. Não, essas regras não me valeriam de nada ali. O rapaz sorriu e disse: "Vem atrás de mim". Ainda pensei duas vezes, porque os carros continuavam sem parar, mas se não fosse com ele iria ficar ali para sempre. Então o truque é: atravessar a estrada devagar e levantar a mão, e eventualmente os carros param. Resultou. Sobrevivi.




Lá estava a mesquita do outro lado da rua. Num país onde quase 90% da população é muçulmana, não deixa de ser interessante a existência de outras religiões que convivem em plena harmonia. Infelizmente, não pude entrar, porque os meus trajes não o permitiam. Mas mesmo do lado de fora, a Masjid Istiqlal Mosque é imponente.


No dia seguinte, a rota estava traçada. Queria visitar a parte antiga da cidade chamada Old Batavia, construída no século XVI, no tempo do colonialismo holandês.



O intenso tráfego de novo às 10h e duas horas de caminho muito animadas com o taxista a cantar ao som do rádio o sucesso brasileiro de Michel Teló "Bará bará beré beré". A cultura lusófona a atravessar fronteiras, portanto.

No percurso até Fatahillah Square, na parte antiga da cidade, vi algumas coisas que me chocaram: as condições das casas em que as pessoas vivem, o lixo por todo o lado, a miséria humana. Tudo o que eu queria era sair do carro e ver mais de perto, mas não o fiz. 






Fatahillah Square é um poço de história concentrada num pequeno espaço. Ali podemos encontrar o Museu de História (está fechado para remodelação), o Museu de Cerâmica, o Museu de Marionetas, o edifício dos correios, o Cafe Batavia. Tudo num estilo que nos reporta ao século XVI, apesar dos edifícios estarem um pouco degradados e a precisarem de uma reforma. 

Museu de História, onde antes era a Câmara de Jacarta

Museu de Cerâmica
Edifícios dos Correios



Mal entrei na praça, vieram logo dois vendedores locais tentarem impingir-me postais e ímans. O normal quando se é claramente turista, não há como disfarçar: máquina fotográfica na mão, ar perdido e curioso ao mesmo tempo, olhar tudo em redor com atenção. Mas um deles despertou-me a atenção por se auto-intitular de guia turístico e não apenas um simples vendedor de souvenirs. Disse que me podia mostrar o mercado do peixe e onde vivem as pessoas, uma espécie de passeio pela Jacarta perdida, onde os turistas normalmente não vão. Fiquei intrigada. Antes de ir, tinha lido sobre um grupo que organiza passeios pelas zonas escondidas de Jacarta, um passeio ao coração das populações onde podemos entrar nas suas casas e ver como vivem de facto, chama-se "Jakarta Hidden Tours". Mas infelizmente o meu tempo era reduzido, por isso não daria para encaixar essa tour na minha agenda. Agradeci-lhe, mas disse que não estava interessada, o que não era de todo verdade.


Uniforme do secundário
Crianças do infantário em visita de estudo com as professoras


Em Jacarta, e ali aquela praça não era excepção, toda a gente parece ter algo para vender, toda a gente tem a sua própria banca, o seu próprio negócio: quer seja comida, bugigangas, bebidas, etc.



























Uma vez que o Museu de História estava fechado e o Museu de Cerâmica é pequeno e não contém muitas peças, segundo informações do TripAdvisor, decidi visitar o Museu de Marionetas (Wayang Museum), que fica onde outrora foi uma igreja.

Museu de Marionetas, em Fatahillah Square










Confesso que não gostei muito do museu. É escuro e pouco organizado, e muitas das legendas das peças nem sequer estão em inglês. Tem um cheiro estranho, uma mistura de madeira com humidade, parecido com o do hotel. Talvez seja esse o cheiro de Jacarta. De qualquer forma, esse será o cheiro da cidade que ficará na minha memória e que me remeterá à Indonésia. 

Adivinhem quem estava à porta do museu à minha espera? Exacto! O auto-intitulado guia turístico, de seu nome Aguswaluyo! O seu inglês era muito bom para quem só tinha tido um curso de um ano, o que era óptimo, porque as pessoas não falam muito bem inglês em Jacarta. Explicou-me que era "guia" há dois anos ali em Old Batavia e que os turistas lhe pagavam o que quisessem, normalmente 10 dólares. Tinha muita vontade de ir conhecer as pessoas e ver como viviam, mas nunca arriscaria a ir sozinha, por isso lá fui com o meu novo amigo.

Agus, o guia turístico de Batavia

Primeiro, explicou-me mais sobre a praça e os seus edifícios históricos. Falou-me da influência portuguesa na Indonésia, no tempo em dominávamos o mundo. Como por exemplo este canhão que, segundo reza a lenda, se as mulheres quiserem engravidar basta sentarem-se no canhão e pousarem a mão no mesmo. O Agus contou-me que vêm pessoas de todo o mundo sentarem-se no canhão em busca de uma espécie de milagre. Não me sentei no canhão português.

Canhão português
Seguimos então em direcção à ponte construída pelos holandeses, mas que já não é usada, e a paisagem quase nos transporta a uma Amesterdão degradada.





Chicken Market Bridge
Vi mais do que estava à espera. A caminho do Mercado do Peixe, tivemos que atravessar por baixo de uma ponte, que é também a casa de muitas pessoas de pequenas aldeias que vêm para Jacarta à procura de uma vida melhor, mas o que encontram é a degradação humana. O cheiro que o rio emanava é indescritível. 








"Se o meu presidente sabe que ando a mostrar isto aos turistas, eu teria muitos problemas", disse-me o Agus. "Ele sabe que isto não está certo, mas quer esconder do mundo a realidade em que vivemos", continuou. 

Mercado do Peixe








Banana frita









Mesquita




Peixe a secar




Peixe a secar



Arroz a secar
Escuteiras



De volta a Fatahillah Square, encontrei estes dois jovens que se vão casar na próxima semana (ou já se terão casado?) e andavam à procura de lugares bonitos para tirarem as fotos para os convites. Sim, na Indonésia mandam os convites uma semana antes do casamento!


Obrigada Agus!

Hora do almoço! Despedi-me do Agus e fui almoçar ao Cafe Batavia, que era a casa do governador holandês. O edifício tem cerca de 200 anos e é uma viagem ao século XIX. 








Nasi goreng Batavia com molho de amendoim e um sumo de ananás, laranja e meloa.