terça-feira, 12 de julho de 2016

As luzes de Xangai



Chegar a Xangai de noite é ver a cidade no seu esplendor máximo. É comer a cereja do topo do bolo sem ter que provar o bolo em si. Xangai impressiona qualquer um como a cidade mais populosa da China e uma das maiores do mundo. O seu centro financeiro tem um enorme peso ao nível mundial e o seu porto de carga é um dos mais importantes. Talvez seja por isto que Xangai se distingue tanto de outras cidades da China continental. Xangai é claramente mais avançada e moderna, mais vanguardista e cosmopolita. 

Centro financeiro visto do "Bund"

Um passeio pelo famoso "The Bund", no lado Oeste do rio Huangpu, não deixa ninguém indiferente aos edifícios desenhados no céu do distrito financeiro de Pudong. As cores reflectidas no rio misturam-se com a água, num enquadramento ideal para a fotografia perfeita.

Mas as luzes não começam e acabam em Pudong. Caminhemos pela "Nanjing road", desde a "People's Square" até ao rio e, por consequência, ao Bund. Esta é principal rua de comércio de Xangai. Aqui, é imperativo olharmos para cima e deixarmo-nos encandear com as luzes dos neóns.

Nanjing Road



"The Bund"
Atravessando o rio para o lado Este, chegámos ao distrito de Pudong. Agora, temos uma vista completamente diferente dos edifícios que víamos do lado do "Bund". Aqui, vemos os arranha-céus de baixo para cima e sentimo-nos minúsculos Davids ao lado de tamanhos Golias. 


Da esquerda para a direita: Shanghai World Financial Center, Shanghai Tower
(edifício mais alto da China continental) e Jin Mao Tower

Subimos os 474 metros que separam o chão do observatório do Shanghai World Financial Center e a nossa perspectiva mudou. Agora temos uma vista de 360 graus sobre Xangai. Sentimo-nos no topo do mundo, daquele que é o nono edifício mais alto do planeta.

A imensidão de Xangai em maqueta
Vista do observatório com a Oriental Pearl
Radio & TV Tower em destaque (edifício rosa)

Ao contrário de outros edifícios, como o Burj Khalifa e o
Empire State Building,  que permitem uma vista sem a protecção de um vidro,
neste observatório isso não é possível, o que deixa um sabor agridoce.



O dia acorda com uma neblina matinal, ou será da poluição de que a cidade sofre, e a China, em geral? É Fevereiro e as mãos, que insistem em tirar fotografias, gelam. Voltamos ao "Bund", agora como ponto de partida para explorar a parte mais antiga de Xangai. Esta parte da cidade chama-se Nanshi. Aqui deixamos a modernidade de Pudong e imergimos na arquitectura tipicamente chinesa, nos templos ancestrais, nas lojas de rua com os seus fervorosos vendedores. Percorremos a caótica Yuyuan old street por entre empurrões e puxões porque "aqui é mais barato!". A época era de festa. Foi por altura do Ano Novo Chinês, uma data extremamente importante na China, e na Ásia, em geral. Por isso, as fofas ovelhas de papel penduradas pelas ruas davam-lhes um ar ainda mais alegre e colorido.









Ainda na mesma área, encontramos o City God Temple. Aqui, o profano das lojas e dos vendedores de rua coexiste muito bem com o sagrado de um dos mais importantes templos da cidade. O templo não é muito grande, mas vale a pena uma visita para quem está pela zona.









Ainda na parte mais antiga de Xangai e mesmo perto do templo, podemos visitar o Yu Garden, que foi sem dúvida o meu sítio preferido na cidade. No meio do rebuliço próprio de uma cidade sempre em crescimento e em constante movimento, este foi um local onde encontrei calma, onde o ar era um pouco mais puro do que no resto da cidade, onde o som do vento nas folhas e dos passarinhos cantava mais alto do que o dos carros e das pessoas.











A nossa visita por Xangai terminou com um sabor europeu. Fomos visitar o turístico bairro francês, referido como French Concession. Sim, é verdade! Em Xangai existe um bairro onde os telhados em bico e os templos dão lugar a prédios de tijolo, grandes avenidas e igrejas. De 1849 a 1943, esta era uma área controlada pelo governo de França. Apesar de o bairro ter passado para as mãos do governo chinês, a área ainda mantém o seu je ne se quoi francês, e ainda mantém o título de zona residencial luxuosa e com restaurantes e lojas da moda.












terça-feira, 17 de maio de 2016

O espírito de Bali


Bali está na moda. Mas por quê? A ilha é apenas mais uma no vasto arquipélago de mais de 14 mil ilhas que constituem a República da Indonésia. A ilha tem praias paradisíacas, uma vida nocturna espectacular, é uma das mecas do surf mundial, o custo de vida é extremamente acessível. Estas seriam razões mais do que suficientes para Bali ser a escolha de umas próximas férias, mas há muito mais para descobrir na famosa ilha indonésia. Não é, por isso, de estranhar que muitos ocidentais tenham deixado tudo para trás e rumado a Bali para fazer da ilha a sua casa. Diz-se até que, em 1597, quando os primeiros holandeses desembarcaram em Bali, se apaixonaram pela ilha e, quando a tripulação se preparava para partir, dois dos marinheiros se recusaram a voltar para a Europa. Mito ou não, é fácil entender o porquê. No entanto, desde 1597 até aos dias de hoje muito mudou na ilha. Depois do final da II Guerra Mundial (em 1945) e de muito sangue derramado, a Indonésia conseguiu finalmente a sua independência da Holanda. Contudo, os holandeses já tinham incentivado e visto em Bali um potencial e rentável ponto de turismo. A paisagem pode ter mudado um pouco ao longo dos anos: o turismo passou a ser a principal fonte de rendimento, substituindo a sociedade que vivia da agricultura de outrora. Mas não se deixem enganar pela superfície! A alma e a cultura balinesa mantêm-se intactos. Não há nenhum lugar no mundo como Bali, nem mesmo na Indonésia. A cultura balinesa é algo único e especial, a devoção dedicada ao Hinduísmo e à família é impressionante, a forma como vivem em pequenas comunidades familiares parece algo impossível aos nossos olhos ocidentais. Bali é a última das ilhas indonésias onde a religião hindu sobreviveu no país que tem a maior comunidade muçulmana do mundo. Bali é diferente e os balineses carregam orgulhosamente esse rótulo.


Dia 1: 


E nada melhor do que uma visita à região de Ubud para provar tudo o que acabei de dizer. A cerca de uma hora de carro da capital Denpasar, Ubud concentra tudo o que Bali tem de melhor. Bem, com expepção das praias. A região concentra um grande número de artistas e artesãos que fazem de Ubud um lugar excepcional para apreciar a verdadeira cultura e arte balinesas. Perdermo-nos por entre os caminhos de terra batida dos campos de arroz, cruzando-nos aqui e ali com algum agricultor com os seus instrumentos de trabalho às costas ou à cabeça, é sentirmos verdadeiramente que estamos num lugar especial. É ver mais além do que o que nos contam os guias de turismo, é ir para lá dos clichés proporcionados pelo livro/filme "Comer, Orar, Amar".


Ubud foi então o meu primeiro destino em Bali, e a "Green Spirit Villa" a minha casa por três dias. E digo casa porque é exactamente disso que se trata. Aqui vive mais um dos muitos casais europeus que se apaixonou pela ilha e decidiu estabelecer a sua vida aqui. Ficarmos nesta guest house é quase como fazermos parte da família: é acordarmos bem cedo e vermos as duas pequenas a irem para a escola, é darmos os bons dias a quem passar por nós e irmos directos à cozinha perguntar à simpática senhora indonésia se nos pode preparar uma daquelas deliciosas panquecas de banana ou uma omelete de vegetais, é voltarmos ao hotel e perguntarem-nos como correu o dia, enquanto acariciamos os dois pequenos felinos da casa.




Sem nada muito bem definido para o primeiro dia, decidi explorar um pouco o centro de Ubud. A primeira paragem foi uma visita à casa e museu de Antonio Blanco, um famoso artista espanhol nascido nas Filipinas que assentou arraiais em Bali e contribuiu muito para o desenvolvimento da arte local. É possível visitar a oficina do já falecido artista, usada agora pelo seu filho Mario que deu continuidade ao trabalho do pai.



Não é possível fotografar as pinturas expostas, mas a casa-museu é muito mais do que as obras de Blanco. Todo o ambiente que envolve a casa é uma obra de arte: desde a decoração, às esculturas no telhado, aos jardins, e aos pássaros coloridos.








Ubud é conhecido pelos campos de arroz que se prolongam por infinitos quilómetros. Enveredei por um dos muitos caminhos de terra que nos levam aos campos de arroz e deixei-me perder entre o verde brilhante dos campos, sob um sol abrasador de Fevereiro, que marcou a minha pele desprotegida. Bem, a minha caminhada pelos campos não foi desinteressada. Andava em busca do restaurante "Sari Organik", que fica bem no meio dos campos de arroz. A comida é local e é cozinhada com ingredientes orgânicos, é simples, mas deliciosa. No entanto, o que torna este restaurante tão especial para mim é a sua localização, a paisagem que o rodeia, a sensação de calma que nos transmite aquele lugar. E o facto de não ser fácil encontrá-lo ainda o torna mais especial, mais nosso. Caramba! Eu consegui encontrá-lo no meio do nada, sem mapa, sem GPS, sem nomes de ruas, apenas caminhos de terra batida anónimos.

Chicken satay com arroz e vegetais





O trabalho agrícola não é fácil. No entanto, vi essencialmente pessoas mais velhas a trabalharem nos campos de arroz. Homens e mulheres de pés descalços, água pelos joelhos, pele queimada pelos anos de exposição ao sol. Homens e mulheres fortes, desgastados pelo tempo, mas sempre com um sorriso no rosto e acolhedores, mesmo que a única palavra que saibam em inglês seja um simples "hello".








De volta ao coração de Ubud, o silêncio e a tranquilidade dos campos de arroz não têm lugar aqui. O centro de Ubud é agitado, turistas e locais misturam-se nas ruas, nos lugares sagrados, nos pontos mais turísticos. Mesmo ao pé do Palácio de Ubud, o trânsito é caótico, e atravessar a rua é uma aventura.


O Palácio é simples, ornamentado com a tradicional escultura em pedra local. É possível visitar gratuitamente apenas algumas áreas do complexo, uma vez que a família real local ainda aqui vive.

Palácio de Ubud








O sol ainda estava lá no alto, mas o dia para mim já ia muito longo, por isso de volta a "casa", mergulho na piscina, amanhã há mais!


Dia 2:


Acordei bem cedo já a pensar no sempre delicioso pequeno-almoço da "Green Spirit Villa". Engulo as panquecas sem mastigar porque o Darma ja estava à minha espera para uma das melhores experiências da minha vida. Sempre que exploro um novo lugar, tento incluir no meu plano de viagem um passeio de bicicleta. Após alguma pesquisa no site do "TripAdvisor", pareceu-me indiscutível que o "GreenBike Cycling Tour" reunia os melhores comentários e por isso foi a minha escolha.

A nossa primeira paragem, ainda sem as bicicletas, foi numa quinta, onde produzem o famoso e caro Kopi Luwak. O luwak é nome que os locais dão ao civeta, um mamífero de pequeno porte. Basicamente, o luwak selecciona os grãos antes de ingeri-los, mas apenas a polpa é digerida, ou seja, a semente passa intacta pelo sistema digestivo do animal. O que torna este café tão caro e especial são as bactérias e enzimas únicas do luwak durante a digestão, que fazem a diferença no sabor do café.

Luwak a comer laranja
Já tinha provado este tipo de café no Vietname, e é possível encontrá-lo também nas Filipinas, para além da Indonésia. A produção é limitada, o que torna o café do luwak no café mais caro do mundo. Uma rápida pesquisa na internet mostra-nos que há um lado negro do tão apreciado café. Os animais estão enjaulados, e são explorados para a obtenção de mais produção e mais lucros. Questionado sobre esta realidade, o guia explicou-me que é possível que haja abusos aos animais na produção do café uma vez que os lucros são altíssimos. Pareceu-me não haver grande controlo por parte das autoridades locais.


Diferentes grãos de café
Amostras dos diferentes tipos de cafés e chás

Curiosamente o tão luxuoso café do luwak não foi o meu favorito. Os cafés de ginseng, de coco, e de baunilha foram os meus preferidos. Quanto aos chás, o de gengibre, pandanus e açafrão ganharam o meu paladar.

Monte e lago Batur



De volta à estrada a caminho do Monte Batur, o vulcão activo, que fica nas montanhas centrais de ilha de Bali. A paisagem ao longo do caminho sempre a subir foi-nos abrindo o apetite para um segundo pequeno-almoço, no meu caso. Fomos recebidos no restaurante "Madu Sari" com um buffet tipicamente indonésio.






Pequeno-almoço indonésio



Energias recarregadas e já de bicicleta, fomos descendo a montanha, por caminhos de terra, florestas, e estradas secundárias. Que prazer foi explorar o interior da ilha, com o vento a varrer-nos o suor e a poeira, enquanto os locais nos acenam alegremente numa espécie de agradecimento por quebrarmos a sua rotina por breves segundos. Os campos de arroz têm outro encanto ao som do pedalar da bicicleta.





Darma, o nosso guia

A família é extremamente importante para a sociedade balinesa. As pessoas vivem em comunidades numa espécie de complexo de edifícios onde a família dorme, cozinha, come, reza, etc. Quando algum homem da família casa, a sua recém mulher junta-se à família e passa também a viver no complexo. Por isso é que ainda é muito importante na sociedade balinesa o nascimento de um filho varão pois vai continuar a descendência da família e vai cuidar da casa e dos membros mais idosos. Fomos então visitar uma desses complexos onde vive uma família tipicamente balinesa.

Galos


Cozinha
Todos os complexos familiares têm uma determinada organização que é seguida à risca. Os balineses pensam na sua casa como se fosse o corpo humano, ou seja, o santuário fica no ponto mais a nordeste do complexo e é considerado a cabeça; a norte fica também o dormitório principal do complexo onde dormem os patriarcas da família, normalmente é o único pavilhão que tem paredes. A cozinha e o celeiro do arroz ficam no ponto mais a sul do pátio, identificando-se como as pernas e os pés. O portão do complexo fica usualmente no extremo sudoeste, sendo considerado o anus. Pela decoração do portão e das paredes que rodeiam o complexo é possível ver o estado económico da família. Por exemplo, esta família vive modestamente no interior de Bali, com pavilhões simples de blocos de cimento despidos e sem electricidade.

Oferenda
Aqui neste complexo com a família aprendemos a fazer uma oferenda. É impossível estar em Bali e nunca ter reparado nestas inúmeras caixinhas com uma folha de banana ou de palmeira, variadas flores, pau de incenso, moedas (para atrair prosperidade), e até comida. As oferendas fazem parte do ritual diário dos balineses. Normalmente há uma pessoa (quase sempre mulher) em cada complexo responsável por fazer as oferendas do dia, gastando pelo menos uma hora do seu dia para a tarefa. Não há entrada de casa sem pelo menos uma oferenda; nos templos, estátuas, e santuários, claro; no tablier de cada carro; em qualquer loja ou restaurante, até na entrada da Zara havia uma oferenda. As oferendas decoram e dão cor às ruas de Bali. Mas o seu propósito vai muito mais além de meros elementos decorativos. Os balineses são extremamente espirituais e acreditam que as oferendas aos deus e demónios os protegem dos maus espíritos e atraem bom karma. São um agradecimento por tudo o que têm, para receberem e manterem a boa sorte, para manterem os desastres fora do seu caminho e permitir a abundância nas suas vidas.


A luta de galos foi banida na Indonésia expecto em Bali, onde se pratica frequentemente. Contudo, apostar é proibido, mas claro que se pratica. A luta de galos é um ritual religiosos para os balineses e é necessário nos templos e nas cerimónias de purificação. Os galos são usados em rituais para afastar os espíritos maus e a luta de galos fornece o sangue como oferenda a esses mesmos espíritos. Mais do que um ritual, a luta de galos é considerado como um desporto para os balineses que assistem fervorosamente às lutas e apostam no seu campeão.



De volta às bicicletas, passámos por uma pequena aldeia onde havia imensa gente nas ruas. Vestidos e maquilhados a rigor, os balineses celebravam mais um ritual religioso. Não percebemos muito bem que acontecimento era aquele, apenas entendemos que tivemos muita sorte por podermos observar aquele evento que acontece apenas a cada seis meses. Não havia turistas para além de nós. Ali naquele recanto escondido no interior da ilha, sentimo-nos especiais por podermos testemunhar algo único para nós e muito importante para os locais. Sentimo-nos parte da comunidade por se deixarem fotografar por nós, pelos sorrisos e pelas palavras trocadas connosco.











Um último esforço nos pedais até ao tão esperado almoço indonésio. Apesar de grande parte do caminho ser a descer e relativamente fácil, há partes em que é preciso suar mais um pouco. Ao longo do caminho fomos sempre passando por trabalhadores nos campos de arroz que me fizeram sentir pequenina e pensar que as minhas dores de ciclista amadora não eram nada comparados com anos de trabalho duro no campo.



Vista do restaurante



Dia 3: 


Novo dia, novo guia, novas aventuras. Desta vez, foi o Ketut que me deu a conhecer e partilhou comigo um pouco do seu Bali. Quem viu o filme "Comer, orar, amar" deve lembrar-se que o nome do senhor que previa o futuro também era Ketut. Mais uma particularidade de Bali é esta repetição de nomes. Ora, existem basicamente quatro nomes tradicionais: Wayan (primeiro filho), Made (segundo filho), Nyoman (terceiro filho), e Ketut (quarto filho). Depois do nome tradicional, os pais colocam um segundo nome aos seus filhos e é normalmente por este nome que as pessoas são tratadas, caso contrário seria uma confusão de Wayans e Mades na mesma sala.


O meu terceiro dia em Bali, ainda em Ubud, começou mais uma vez bem cedo com uma visita ao mercado tradicional da cidade. Os odores, as cores, os sabores são únicos e reais. Sempre disse que é nos mercados que se conhece a verdadeira essência de um povo. O cheiro nem sempre é o melhor (confesso que corri na parte da carne e do peixe), mas é aqui que se percebem os hábitos locais e as rotinas alimentares.


É possível comprar oferendas no mercado

Peixe fresco 









A paragem no mercado foi curta porque o dia não seria longo o suficiente para tudo o que Ketut me queria mostrar. Seguimos viagem para norte de Ubud, onde fica a vila de Tegallalang, arrisco-me a dizer, os mais bonitos terraços de arroz em toda a ilha. É visita obrigatória de qualquer turista que se preze!






Ainda mais a norte, fica a pequena vila de Tampaksiring, que contém um património incrível e riquíssimo. O templo Tirta Empul, com as suas fontes termais, é considerado um lugar mágico para os balineses. A agua sai de várias fontes em pedra onde os devotos hindus se vão banhar, dentro de uma piscina. São ao todo 15 fontes, pelas quais as pessoas passam, com a excepção de uma que está reservada aos defuntos. É curioso ver muitos ocidentais e banharem-se nas águas termais, quer sejam hindus ou apenas pela vontade de experimentar, qualquer pessoa, de qualquer idade, o pode fazer.











Continuámos na vila de Tampaksiring, pois é também aqui que fica o Templo Gunung Kawi. Rodeado por lindos campos de arroz, o templo é constituído por dez santuários esculpidos na rocha.







O dia ainda ia a meio, mas para mim já ia longo. Já começava a acusar algum cansaço e o calor extenuante de Bali estava a roubar toda a minha energia. Por isso, fizemos uma pausa para o almoço. Parámos no restaurante "Warung Dewa Malen", um espaço bastante agradável com comida indonésia e vista para os campos de arroz, claro.



Uma das tradições desta área de Bali é a escultura na madeira. Os artistas locais transformam meros pedaços de madeira em verdadeiras obras de arte. Tive a oportunidade de visitar um local onde se trabalha a madeira e é possível comprar estas esculturas.




De volta à estrada para visitarmos o último templo deste longo dia. Confesso que nesta altura já estava completamente esgotada e já não conseguia acompanhar o que o Ketut pacientemente me explicava. A minha cabeça era uma confusão de deuses e seres mágicos, já nada fazia sentido. Imaginem que alguém vos contava toda a história da bíblia em apenas um dia. É demasiada informação para alguém que sabe muito pouco sobre hinduísmo. Fomos então ao Templo Goa Gajah, ou Cave do Elefante como também é conhecido.


Cave do Elefante

No templo havia uma senhora que fazia uma espécie de ritual aos turistas curiosos, mas também ignorantes nestas lides hindus. A adorável senhora colocava-nos grãos de arroz na testa e benzia-nos com incenso para nos dar sorte. 




De volta ao centro de Ubud, fomos visitar o último lugar do dia e também o que menos gostei da viagem toda: a Sacred Monkey Forest Sanctuary, ou seja, a floresta dos macacos, que inclui templos e é considerado um local sagrado para os balineses. Contudo, a floresta começou a atrair os turistas e hoje é uma dos locais mais visitados em Ubud. Já tinha percebido que não gostava de macacos quando visitei as Batu Caves, em Kuala Lumpur. E, aqui, a minha opinião manteve-se, ou até piorou. Senti-me super insegura dentro da floresta, porque há macacos que atacam os visitantes e perseguem-nos em busca de alimentos ou até bens pessoais. Fui alertada pelo Ketut a não levar nada de comida comigo e para manter uma distância de segurança com os macacos. Os ataques aos turistas acontece diariamente, para além de roubarem tudo o que possam apanhar, os macacos também mordem e a raiva é um problema bem presente em Bali, quer nos cães quer nos macacos.






Não tive nenhuma situação grave com estes pequenos seres diabólicos, mas não consegui relaxar durante o tempo em que estive dentro da floresta. Basicamente, dei uma volta lá dentro por respeito ao Ketut, mas a minha vontade foi sair desde o momento em que pus o meu pé dentro da Monkey Forest. Os macacos têm um olfacto apuradíssimo, e até mesmo uma garrafa de água ou uma pastilha elástica os atrai. Eu estava apenas a abrir a minha mochila (que não continha qualquer tipo de comida ou bebida) para tirar o meu telemóvel, quando um macaco se começa a dirigir para mim com um ar ameaçador. Foi o ponto final de uma visita nada agradável.









A tour com o Ketut tinha terminado aqui, mas o dia ainda não. A noite estava reservada para assistir a um espectáculo de dança tradicional balinesa, no Templo Lotus Pond. A noite estava perfeita e o lugar não poderia ser mais mágico e apropriado. Um lago cheio de flores de lótus rodeia o templo, a estreita passagem abre caminho até ao palco, transportando-nos da vida mundana que deixámos para trás até um lugar sagrado e superior. Por enquanto, reina o silencio e a escuridão.





Os tambores rufam, e de repente já não estamos na escuridão. Um grupo de jovens balineses rodeia o centro do palco, martelando furiosamente nos seus xilofones. O espectáculo abre com duas dançarinas balinesas que executam a "Legong Trance Dance", uma dança apenas apresentada num templo por jovens muito novas. E parece mesmo que as duas dançarinas estão num estado de transe: com os olhos focados no horizonte, movimentos totalmente coordenados entre elas, expressão dramática.




O espectáculo não apresenta apenas dançarinas femininas, a parte mais interessante, a meu ver, foi quando um dos elementos masculinos do grupo tomou o palco e executou uma dança mais fisicamente exigente.





Todo o espectáculo é altamente dramático, desde as roupas coloridas, à maquilhagem exagerada, às expressões faciais. As danças são fisicamente exigentes e envolvem todas as partes do corpo (incluindo os olhos que dançam freneticamente) num esforço de coordenação impressionante.





A dança final é a "Barong Dance", que conta a história do bom espírito a triunfar sobre o mau. Barong é um animal mitológico que representa o bem. No caso desta performance em particular, o Barong é um tigre que simboliza o rei da floresta.



Dia 4:


No meu quarto dia em Bali, despedi-me de Ubud e rumei à agitada zona costeira de Kuta. Apesar dos variados sites e blogues de viagens desaconselharem esta zona, por ser caótica e suja, decidi passar o resto dos meus dias de férias, incluindo o meu aniversário, na tão difamada Kuta. Sim, Kuta não é bonita, não é um paraíso à beira-mar, nem representa o espírito balinês pelo qual me apaixonei em Ubud. Kuta é o supra-sumo do turismo em Bali, é a bisavó que já tem anos disto, e está um pouco desgastada pelos milhares de turistas que rumam à ilha todos os anos. Kuta é o refúgio dos corações destroçados à procura de uma aventura, é onde os solteiros deixam de o ser por uma noite, é onde até os mais pudicos perdem a cabeça. Kuta é onde os australianos lavam a roupa suja, e quanta roupa têm eles! Kuta é o lado mais louco de Bali, é onde Bali se descaracteriza um pouco e às tantas não sabemos mais se estamos em ali ou numa noite em Banguecoque.

Praia de Kuta




O meu hotel ficava mesmo em frente à praia de Kuta por isso fui logo fazer um reconhecimento da área. A praia não é nada de especial, com certeza não é das melhores que Bali tem para oferecer. Há surfistas, há locais a passearem pela praia, há vendedores ambulantes. E há um pôr-do-sol magnífico, talvez o melhor que esta praia tem a oferecer.

Kuta é também conhecida pelos seus outlets de roupa e calçado. É possível fazerem-se bons negócios e as marcas de desporto estão sempre em destaque, principalmente aquelas mais ligadas ao surf, não fosse este o desporto-rei de Bali.








Dia 5: 


Último dia em Bali, mas ainda houve tempo para visitar Seminyak. Esta é uma zona mais calma e com imensos resorts para famílias. Sem saber, esbarrei numa cerimónia religiosa que estava a acontecer num templo mesmo ao pé da praia. 




Seminyak tem muitas lojas com artigos únicos e originais. Aqui abundam também vários restaurantes com comida local e internacional. Eu optei por almoçar num restaurante grego, é que apesar de adorar nasi goreng, ao quinto dia já é um pouco de mais.




E assim me despedi de Bali com a certeza de voltar para explorar ainda mais a ilha!