De volta ao coração de Ubud, o silêncio e a tranquilidade dos campos de arroz não têm lugar aqui. O centro de Ubud é agitado, turistas e locais misturam-se nas ruas, nos lugares sagrados, nos pontos mais turísticos. Mesmo ao pé do
Palácio de Ubud, o trânsito é caótico, e atravessar a rua é uma aventura.
O Palácio é simples, ornamentado com a tradicional escultura em pedra local. É possível visitar gratuitamente apenas algumas áreas do complexo, uma vez que a família real local ainda aqui vive.
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Palácio de Ubud |
O sol ainda estava lá no alto, mas o dia para mim já ia muito longo, por isso de volta a "casa", mergulho na piscina, amanhã há mais!
Dia 2:
Acordei bem cedo já a pensar no sempre delicioso pequeno-almoço da "Green Spirit Villa". Engulo as panquecas sem mastigar porque o Darma ja estava à minha espera para uma das melhores experiências da minha vida. Sempre que exploro um novo lugar, tento incluir no meu plano de viagem um passeio de bicicleta. Após alguma pesquisa no site do "TripAdvisor", pareceu-me indiscutível que o
"GreenBike Cycling Tour" reunia os melhores comentários e por isso foi a minha escolha.
A nossa primeira paragem, ainda sem as bicicletas, foi numa quinta, onde produzem o famoso e caro
Kopi Luwak. O luwak é nome que os locais dão ao civeta, um mamífero de pequeno porte. Basicamente, o luwak selecciona os grãos antes de ingeri-los, mas apenas a polpa é digerida, ou seja, a semente passa intacta pelo sistema digestivo do animal. O que torna este café tão caro e especial são as bactérias e enzimas únicas do luwak durante a digestão, que fazem a diferença no sabor do café.
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Luwak a comer laranja |
Já tinha provado este tipo de café no Vietname, e é possível encontrá-lo também nas Filipinas, para além da Indonésia. A produção é limitada, o que torna o café do luwak no café mais caro do mundo. Uma rápida pesquisa na internet mostra-nos que há um lado negro do tão apreciado café. Os animais estão enjaulados, e são explorados para a obtenção de mais produção e mais lucros. Questionado sobre esta realidade, o guia explicou-me que é possível que haja abusos aos animais na produção do café uma vez que os lucros são altíssimos. Pareceu-me não haver grande controlo por parte das autoridades locais.
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Diferentes grãos de café |
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Amostras dos diferentes tipos de cafés e chás |
Curiosamente o tão luxuoso café do luwak não foi o meu favorito. Os cafés de ginseng, de coco, e de baunilha foram os meus preferidos. Quanto aos chás, o de gengibre, pandanus e açafrão ganharam o meu paladar.
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Monte e lago Batur |
De volta à estrada a caminho do
Monte Batur, o vulcão activo, que fica nas montanhas centrais de ilha de Bali. A paisagem ao longo do caminho sempre a subir foi-nos abrindo o apetite para um segundo pequeno-almoço, no meu caso. Fomos recebidos no restaurante "Madu Sari" com um buffet tipicamente indonésio.
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Pequeno-almoço indonésio |
Energias recarregadas e já de bicicleta, fomos descendo a montanha, por caminhos de terra, florestas, e estradas secundárias. Que prazer foi explorar o interior da ilha, com o vento a varrer-nos o suor e a poeira, enquanto os locais nos acenam alegremente numa espécie de agradecimento por quebrarmos a sua rotina por breves segundos. Os campos de arroz têm outro encanto ao som do pedalar da bicicleta.
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Darma, o nosso guia |
A família é extremamente importante para a sociedade balinesa. As pessoas vivem em comunidades numa espécie de complexo de edifícios onde a família dorme, cozinha, come, reza, etc. Quando algum homem da família casa, a sua recém mulher junta-se à família e passa também a viver no complexo. Por isso é que ainda é muito importante na sociedade balinesa o nascimento de um filho varão pois vai continuar a descendência da família e vai cuidar da casa e dos membros mais idosos. Fomos então visitar uma desses complexos onde vive uma família tipicamente balinesa.
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Galos |
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Cozinha |
Todos os complexos familiares têm uma determinada organização que é seguida à risca. Os balineses pensam na sua casa como se fosse o corpo humano, ou seja, o santuário fica no ponto mais a nordeste do complexo e é considerado a cabeça; a norte fica também o dormitório principal do complexo onde dormem os patriarcas da família, normalmente é o único pavilhão que tem paredes. A cozinha e o celeiro do arroz ficam no ponto mais a sul do pátio, identificando-se como as pernas e os pés. O portão do complexo fica usualmente no extremo sudoeste, sendo considerado o anus. Pela decoração do portão e das paredes que rodeiam o complexo é possível ver o estado económico da família. Por exemplo, esta família vive modestamente no interior de Bali, com pavilhões simples de blocos de cimento despidos e sem electricidade.
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Oferenda |
Aqui neste complexo com a família aprendemos a fazer uma oferenda. É impossível estar em Bali e nunca ter reparado nestas inúmeras caixinhas com uma folha de banana ou de palmeira, variadas flores, pau de incenso, moedas (para atrair prosperidade), e até comida. As oferendas fazem parte do ritual diário dos balineses. Normalmente há uma pessoa (quase sempre mulher) em cada complexo responsável por fazer as oferendas do dia, gastando pelo menos uma hora do seu dia para a tarefa. Não há entrada de casa sem pelo menos uma oferenda; nos templos, estátuas, e santuários, claro; no tablier de cada carro; em qualquer loja ou restaurante, até na entrada da Zara havia uma oferenda. As oferendas decoram e dão cor às ruas de Bali. Mas o seu propósito vai muito mais além de meros elementos decorativos. Os balineses são extremamente espirituais e acreditam que as oferendas aos deus e demónios os protegem dos maus espíritos e atraem bom karma. São um agradecimento por tudo o que têm, para receberem e manterem a boa sorte, para manterem os desastres fora do seu caminho e permitir a abundância nas suas vidas.
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A luta de galos foi banida na Indonésia expecto em Bali, onde se pratica frequentemente. Contudo, apostar é proibido, mas claro que se pratica. A luta de galos é um ritual religiosos para os balineses e é necessário nos templos e nas cerimónias de purificação. Os galos são usados em rituais para afastar os espíritos maus e a luta de galos fornece o sangue como oferenda a esses mesmos espíritos. Mais do que um ritual, a luta de galos é considerado como um desporto para os balineses que assistem fervorosamente às lutas e apostam no seu campeão.
De volta às bicicletas, passámos por uma pequena aldeia onde havia imensa gente nas ruas. Vestidos e maquilhados a rigor, os balineses celebravam mais um ritual religioso. Não percebemos muito bem que acontecimento era aquele, apenas entendemos que tivemos muita sorte por podermos observar aquele evento que acontece apenas a cada seis meses. Não havia turistas para além de nós. Ali naquele recanto escondido no interior da ilha, sentimo-nos especiais por podermos testemunhar algo único para nós e muito importante para os locais. Sentimo-nos parte da comunidade por se deixarem fotografar por nós, pelos sorrisos e pelas palavras trocadas connosco.
Um último esforço nos pedais até ao tão esperado almoço indonésio. Apesar de grande parte do caminho ser a descer e relativamente fácil, há partes em que é preciso suar mais um pouco. Ao longo do caminho fomos sempre passando por trabalhadores nos campos de arroz que me fizeram sentir pequenina e pensar que as minhas dores de ciclista amadora não eram nada comparados com anos de trabalho duro no campo.
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Vista do restaurante |
Dia 3:
Novo dia, novo guia, novas aventuras. Desta vez, foi o Ketut que me deu a conhecer e partilhou comigo um pouco do seu Bali. Quem viu o filme "Comer, orar, amar" deve lembrar-se que o nome do senhor que previa o futuro também era Ketut. Mais uma particularidade de Bali é esta repetição de nomes. Ora, existem basicamente quatro nomes tradicionais: Wayan (primeiro filho), Made (segundo filho), Nyoman (terceiro filho), e Ketut (quarto filho). Depois do nome tradicional, os pais colocam um segundo nome aos seus filhos e é normalmente por este nome que as pessoas são tratadas, caso contrário seria uma confusão de Wayans e Mades na mesma sala.
A paragem no mercado foi curta porque o dia não seria longo o suficiente para tudo o que Ketut me queria mostrar. Seguimos viagem para norte de Ubud, onde fica a vila de
Tegallalang, arrisco-me a dizer, os mais bonitos terraços de arroz em toda a ilha. É visita obrigatória de qualquer turista que se preze!
Ainda mais a norte, fica a pequena vila de Tampaksiring, que contém um património incrível e riquíssimo. O
templo Tirta Empul, com as suas fontes termais, é considerado um lugar mágico para os balineses. A agua sai de várias fontes em pedra onde os devotos hindus se vão banhar, dentro de uma piscina. São ao todo 15 fontes, pelas quais as pessoas passam, com a excepção de uma que está reservada aos defuntos. É curioso ver muitos ocidentais e banharem-se nas águas termais, quer sejam hindus ou apenas pela vontade de experimentar, qualquer pessoa, de qualquer idade, o pode fazer.
Continuámos na vila de Tampaksiring, pois é também aqui que fica o
Templo Gunung Kawi. Rodeado por lindos campos de arroz, o templo é constituído por dez santuários esculpidos na rocha.
O dia ainda ia a meio, mas para mim já ia longo. Já começava a acusar algum cansaço e o calor extenuante de Bali estava a roubar toda a minha energia. Por isso, fizemos uma pausa para o almoço. Parámos no restaurante "Warung Dewa Malen", um espaço bastante agradável com comida indonésia e vista para os campos de arroz, claro.
Uma das tradições desta área de Bali é a escultura na madeira. Os artistas locais transformam meros pedaços de madeira em verdadeiras obras de arte. Tive a oportunidade de visitar um local onde se trabalha a madeira e é possível comprar estas esculturas.
De volta à estrada para visitarmos o último templo deste longo dia. Confesso que nesta altura já estava completamente esgotada e já não conseguia acompanhar o que o Ketut pacientemente me explicava. A minha cabeça era uma confusão de deuses e seres mágicos, já nada fazia sentido. Imaginem que alguém vos contava toda a história da bíblia em apenas um dia. É demasiada informação para alguém que sabe muito pouco sobre hinduísmo. Fomos então ao Templo Goa Gajah, ou Cave do Elefante como também é conhecido.
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Cave do Elefante |
No templo havia uma senhora que fazia uma espécie de ritual aos turistas curiosos, mas também ignorantes nestas lides hindus. A adorável senhora colocava-nos grãos de arroz na testa e benzia-nos com incenso para nos dar sorte.
De volta ao centro de Ubud, fomos visitar o último lugar do dia e também o que menos gostei da viagem toda: a
Sacred Monkey Forest Sanctuary, ou seja, a floresta dos macacos, que inclui templos e é considerado um local sagrado para os balineses. Contudo, a floresta começou a atrair os turistas e hoje é uma dos locais mais visitados em Ubud. Já tinha percebido que não gostava de macacos quando visitei as Batu Caves, em Kuala Lumpur. E, aqui, a minha opinião manteve-se, ou até piorou. Senti-me super insegura dentro da floresta, porque há macacos que atacam os visitantes e perseguem-nos em busca de alimentos ou até bens pessoais. Fui alertada pelo Ketut a não levar nada de comida comigo e para manter uma distância de segurança com os macacos. Os ataques aos turistas acontece diariamente, para além de roubarem tudo o que possam apanhar, os macacos também mordem e a raiva é um problema bem presente em Bali, quer nos cães quer nos macacos.
Não tive nenhuma situação grave com estes pequenos seres diabólicos, mas não consegui relaxar durante o tempo em que estive dentro da floresta. Basicamente, dei uma volta lá dentro por respeito ao Ketut, mas a minha vontade foi sair desde o momento em que pus o meu pé dentro da Monkey Forest. Os macacos têm um olfacto apuradíssimo, e até mesmo uma garrafa de água ou uma pastilha elástica os atrai. Eu estava apenas a abrir a minha mochila (que não continha qualquer tipo de comida ou bebida) para tirar o meu telemóvel, quando um macaco se começa a dirigir para mim com um ar ameaçador. Foi o ponto final de uma visita nada agradável.
A tour com o Ketut tinha terminado aqui, mas o dia ainda não. A noite estava reservada para assistir a um espectáculo de dança tradicional balinesa, no
Templo Lotus Pond. A noite estava perfeita e o lugar não poderia ser mais mágico e apropriado. Um lago cheio de flores de lótus rodeia o templo, a estreita passagem abre caminho até ao palco, transportando-nos da vida mundana que deixámos para trás até um lugar sagrado e superior. Por enquanto, reina o silencio e a escuridão.
Os tambores rufam, e de repente já não estamos na escuridão. Um grupo de jovens balineses rodeia o centro do palco, martelando furiosamente nos seus xilofones. O espectáculo abre com duas dançarinas balinesas que executam a "Legong Trance Dance", uma dança apenas apresentada num templo por jovens muito novas. E parece mesmo que as duas dançarinas estão num estado de transe: com os olhos focados no horizonte, movimentos totalmente coordenados entre elas, expressão dramática.
O espectáculo não apresenta apenas dançarinas femininas, a parte mais interessante, a meu ver, foi quando um dos elementos masculinos do grupo tomou o palco e executou uma dança mais fisicamente exigente.
Todo o espectáculo é altamente dramático, desde as roupas coloridas, à maquilhagem exagerada, às expressões faciais. As danças são fisicamente exigentes e envolvem todas as partes do corpo (incluindo os olhos que dançam freneticamente) num esforço de coordenação impressionante.
A dança final é a "Barong Dance", que conta a história do bom espírito a triunfar sobre o mau. Barong é um animal mitológico que representa o bem. No caso desta performance em particular, o Barong é um tigre que simboliza o rei da floresta.
Dia 4:
No meu quarto dia em Bali, despedi-me de Ubud e rumei à agitada zona costeira de
Kuta. Apesar dos variados sites e blogues de viagens desaconselharem esta zona, por ser caótica e suja, decidi passar o resto dos meus dias de férias, incluindo o meu aniversário, na tão difamada Kuta. Sim, Kuta não é bonita, não é um paraíso à beira-mar, nem representa o espírito balinês pelo qual me apaixonei em Ubud. Kuta é o supra-sumo do turismo em Bali, é a bisavó que já tem anos disto, e está um pouco desgastada pelos milhares de turistas que rumam à ilha todos os anos. Kuta é o refúgio dos corações destroçados à procura de uma aventura, é onde os solteiros deixam de o ser por uma noite, é onde até os mais pudicos perdem a cabeça. Kuta é onde os australianos lavam a roupa suja, e quanta roupa têm eles! Kuta é o lado mais louco de Bali, é onde Bali se descaracteriza um pouco e às tantas não sabemos mais se estamos em ali ou numa noite em Banguecoque.
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Praia de Kuta |
O meu hotel ficava mesmo em frente à praia de Kuta por isso fui logo fazer um reconhecimento da área. A praia não é nada de especial, com certeza não é das melhores que Bali tem para oferecer. Há surfistas, há locais a passearem pela praia, há vendedores ambulantes. E há um pôr-do-sol magnífico, talvez o melhor que esta praia tem a oferecer.
Kuta é também conhecida pelos seus outlets de roupa e calçado. É possível fazerem-se bons negócios e as marcas de desporto estão sempre em destaque, principalmente aquelas mais ligadas ao surf, não fosse este o desporto-rei de Bali.
Dia 5:
Último dia em Bali, mas ainda houve tempo para visitar Seminyak. Esta é uma zona mais calma e com imensos resorts para famílias. Sem saber, esbarrei numa cerimónia religiosa que estava a acontecer num templo mesmo ao pé da praia.
Seminyak tem muitas lojas com artigos únicos e originais. Aqui abundam também vários restaurantes com comida local e internacional. Eu optei por almoçar num restaurante grego, é que apesar de adorar nasi goreng, ao quinto dia já é um pouco de mais.
E assim me despedi de
Bali com a certeza de voltar para explorar ainda mais a ilha!