sábado, 28 de fevereiro de 2015

Quioto, a cidade imperial






O Japão é um lugar estranho. Não no mau sentido, apenas no sentido de ser muito diferente de tudo o que conheço e da cultura ocidental. No Japão é tudo tão organizado que chega a ser confuso para alguém que não seja japonês nem viva no Japão. Há filas meticulosamente alinhadas para aceder a qualquer lugar. As cidades são extremamente populosas mas as pessoas entendem-se no seu organizado quotidiano e a vida flui sem grandes percalços. Grande parte das regras e leis e comportamentos do senso-comum que são familiares para nós ocidentais provavelmente não se aplicam no Japão. 








Quioto é uma cidade cheia de história e tradição. Quioto é a antiga capital imperial do Japão, também conhecida como a "Cidade dos 10 mil santuários". Apesar de ter sido fustigada por guerras, incêndios e terramotos ao longo dos séculos, Quioto foi poupada de muita destruição causada durante a II Guerra Mundial. Curiosamente, a cidade foi removida da lista de alvos da bomba atómica lançada pelos norte-americanos, devido ao seu rico e vasto centro cultural. Há tantos pontos turísticos para visitar que fica difícil conhecer a cidade num só dia. Optámos por visitar o Santuário Fushimi Inari-Taish, um dos mais importantes e visitados lugares da cidade. O santuário fica na montanha também chamada de Inari. São cerca de quatro quilómetros a subir até ao santuário central, sempre rodeados por floresta e lagos e com os famosos portões vermelhos, chamados de torii na cultura japonesa, a acompanhar-nos. 


Ritual de purificação






Há centenas de estátuas de raposas espalhadas pelo santuário.
A raposa é considerada a mensageira de Inari, o deus dos cereais.




"Fushimi Inari" foi dedicado ao deuses do arroz e do saqué pela família Hata no século VIII. Mas como o peso da agricultura foi diminuindo, os deuses passaram a ser evocados para garantirem prosperidade aos negócios em geral. Hoje em dia, este é um dos santuários mais populares no Japão.
























Subir a montanha Inari não é fácil, apesar de as árvores e os arcos laranja proporcionarem uma agradável sombra durante grande parte do percurso. Há velhinhos agarrados a bengalas a ultrapassarem-me, há pequenas lojas com comida e bebidas pelo caminho onde me apetece parar a cada dez minutos, há mapas desencorajadores que vão mostrando onde estamos e quanto falta para chegarmos à meta e que me mostram que nos últimos 10 minutos praticamente não saí do sítio. Não consegui. Desculpem, deuses. Não terminei o percurso. Fico com um gosto amargo porque muito provavelmente nunca mais voltarei lá. Talvez o melhor ainda estivesse para vir e eu nunca o saberei.

Vista sobre a cidade de Quioto

Dizer que se gosta de comida japonesa não significa propriamente dizer que se gosta de sushi. Até porque o sushi não faz parte da dieta alimentar diária da generalidade dos japoneses. O sushi está guardado para dias especiais e celebrações. Provavelmente, nós, ocidentais, comemos mais sushi do que os japoneses. Eu adoro sushi e por isso fui cheia de confiança a pensar que iria gostar de qualquer iguaria que me apresentassem à frente. Estava enganada.




Já tinha parado largos minutos, antes de entrar no santuário, em frente à banca deste senhor e ficado a contemplar a forma como habilmente confeccionava estas bolinhas de polvo, virando-as e revirando-as nas formas usando apenas os dois pauzinhos. Esta especialidade japonesa chama-se "tako yaki" e, pelos ingredientes usados, parecia-me uma escolha segura. É uma massa bastante mole, quase líquida no interior, frita numa chapa especial com a forma redonda, com um pedaço de polvo no meio. Não gostei e fui obrigada a deitar ao lixo uma caixa com seis bolinhas dentro.

Tako yaki

Depois de visitarmos o Santuário Fushimi Inari-Taish, seguimos para o centro de Quioto, onde ainda houve tempo para visitarmos o Templo Nishi Hongwanji.
















Decidi dar uma segunda hipótese à gastronomia japonesa e experimentei um dos pratos mais populares japoneses: "tonkatu". Basicamente, é uma costeleta de porco panada e frita, normalmente acompanhada por arroz, repolho picado e sopa miso. É simples e óptimo. 

Tonkatu