quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Primeiro post, primeira vez em África

Ruanda. O que é que eu sei sobre o Ruanda? Sei que é um país em África. Sei que houve um genocídio. E sei que existe um filme sobre isso: "Hotel Ruanda". Não vi o filme antes de ir, só o vi quando voltei.

"O Ruanda é o país mais bonito em África", disseram uns, ou "é tudo tão limpo e verde, vais ficar surpreendida", disseram outros. As expectativas eram altas, portanto. Nunca tinha estado no continente africano, mas parecia que conhecia de cor os sabores e cheiros que exalam os filmes e as músicas africanas. Kigali, capital do Ruanda, não me desiludiu, muito pelo contrário.



O Ruanda é um país de pequena dimensão, mas com uma população de cerca de 11 milhões de habitantes. Inicialmente, fez parte do império alemão, mas depois da Primeira Guerra Mundial foi entregue à Bélgica. O francês é portanto uma das línguas oficiais e, no geral, os ruandeses têm nomes tipicamente franceses. A maioria da população é católica, como comprova o livro que estava à minha espera na mesinha-de-cabeceira do meu quarto no hotel:

"The New Testament", no Hotel Lemigo

E foram precisamente os belgas que dividiram as população em dois grupos étnicos: os hutus e os tutsis. Segundo os belgas, os tutsis eram mais altos e tinham o nariz mais esguio; eram a classe política dominante, no entanto, eram uma minoria. Os hutus eram a maioria. Durante a presença belga, os tutsis exprimiram os seu domínio através da cobrança de impostos e do trabalho forçado, criando um fosso social maior do que o que já existia.

Em 1962, aquando da independência da Bélgica, os hutus detinham o poder político. E começou então a caça aos tutsis e aos hutus oposicionistas. Em 1994, o ano do genocídio, morreram cerca de 800 mil ruandeses. 

"Kigali Genocide Memorial"
Serge Rwigamba
Serge Rwigamba, guia do "Kigali Genocide Memorial", tinha 12 anos durante o genocídio. É tutsi. Perdão. Era tutsi, porque hoje em dia já ninguém diferencia as duas etnias, são todos ruandeses. Os pais foram assassinados e estão hoje enterrados nos jardins do museu como muitos outros.

Famílias inteiras foram destruídas e há apelidos que foram completamente extintos. 

O "Memorial" conta de uma forma simples e clara a maneira como os milhares de tutsis foram mortos. Os homens esquartejados, as mulheres violadas e obrigadas a matar os seus próprios filhos antes de serem também elas mortas pelos seus carrascos. Casas saqueadas e queimadas. Cadáveres deixados ao apodrecimento. Segundo as legendas das imagens no museu, em 1994, o Ruanda tresandava a morte. 

Fotografias de ruandeses assassinados durante o Genocídio

Vale a pena visitar o museu e os seus jardins, por mais que a realidade seja tão cruel e chocante. Há um sentimento de impotência e de inutilidade ao pensarmos que isto tudo aconteceu há apenas 20 anos. Onde estávamos nós? Poderíamos ter feito algo para travar esta atrocidade? Tanto o museu como o filme "Hotel Ruanda" explicam a indiferença mundial, nomeadamente da ONU, perante os crimes que foram cometidos.

Há fotografias de extrema violência, mas a parte que mais me sensibilizou foi a galeria das crianças, onde por baixo de cada fotografia é descrito o nome, idade, passatempos preferidos, qualidades e a forma como foram assassinadas. Crianças que muito provavelmente estariam vivas hoje e que tinham idades semelhantes à minha em 1994 (eu tinha 4 anos na altura).

"Amakulo"? ("Como estás"?)

Apesar da tragédia que assolou o país, os ruandeses são um povo muito alegre, sorridente e descontraído. Senti-me bem acolhida e bem-vinda e com muita vontade de voltar. Kigali é uma cidade extremamente limpa, bem arranjada, verde por causa da floresta abundante e colorida por causa dos bonitos vestidos das ruandesas.

Loja de artesanato, no "Kigali Genocide Memorial

Houve tempo ainda para jantar num dos restaurantes mais conhecidos da capital: "Republika Lounge Kigali". Tem bom ambiente, boa música, boa comida e barata, e os funcionários são muito bem-dispostos.

"Republika Lounge Kigali"
















Provei o bife com molho de cogumelos e as batatas fritas com alho e provei a cerveja Mutzig produzida no Ruanda. 











Até à próxima, Claude e companhia!