segunda-feira, 4 de agosto de 2014

5 dias em Budapeste


Nos últimos tempos tenho visitado várias cidades um pouco por todo o mundo. Grande parte delas, percorri-as sozinha. Nestes últimos meses aprendi imensas coisas, mas aquilo de que mais me orgulho talvez tenha sido o facto de ter aprendido a viajar sozinha. Não é fácil suportarmos a nossa própria companhia durante tanto tempo. E depois, quem é que nos tira aquela foto espectacular em frente à Torre Eiffel ou em frente ao Coliseu de Roma? Bem, na verdade, há imensas vantagens em viajar sozinho. Muito provavelmente se estivesse acompanhada não teria conhecido muitas das pessoas que se cruzaram no meu caminho. O trajecto de cada viagem depende apenas de mim. Se fico mais tempo naquele restaurante porque me apetece pedir sobremesa ou se quero parar aqui e ali para tirar uma foto, sou eu que decido. Na verdade, passei a gostar tanto de ser uma exploradora solitária que me perguntei várias vezes como seria voltar a viajar acompanhada. Esse dia chegou finalmente, e Budapeste fez-me perceber que sabe sempre melhor viajar acompanhada.

Dia I:

Cheguei sozinha. Do aeroporto ao hostel foram cerca de 40 minutos, entre autocarro e metro. Vale a pena comprar o bilhete mensal que dá para todos os transportes públicos e custa apenas 12€. Uma pechincha, portanto, e quase me apeteceu ficar o mês todo em Budapeste para aproveitar bem o bilhete, e a cidade, claro.
O hostel escolhido (depois de intensa pesquisa, porque a oferta é vasta e variada) foi o "Maverick City Lodge", bem no centro do Bairro Judeu, um dos locais mais animados e com a maior oferta de restaurantes e de bares da cidade. Apesar de termos passado muito pouco tempo no hostel, fomos muitos bem recebidos pelos jovens funcionários, sempre prontos a responder a todas as questões destes chatos turistas. A decoração é moderna e criativa, o espírito do hostel é jovem e descontraído.

"Maverick City Lodge", na rua Kazinczy

A comida do avião nunca satisfaz e a fome já apertava, por isso pedi no hostel que me sugerissem um restaurante ali nas redondezas. Indicaram-me o "Kamizir", mesmo ali ao lado do hostel. Com direito a voucher de uma bebida.





Tenderlion wrapped in mangalitsa ham, served with "lecsó" style potatoes (9€)

A minha primeira experiência gastronómica em Budapeste não desiludiu. Para além de ter ficado encantada com o espaço, a decoração e os funcionários do restaurante, esta foi a melhor iguaria que provei durante toda a minha estadia na cidade. Cedo descobri que a comida húngara é óptima e há sempre um cuidado enorme com a apresentação dos pratos e com a decoração dos restaurantes. Sentidos bem apurados, porque estes pratos são uma explosão de sabores, cheiros e texturas. A "paprika" (também conhecida por pimentão, pimentão-doce ou colorau) é a rainha da gastronomia da Hungria e está presente em grande parte dos pratos. E ainda bem! Porque torna tudo ainda mais delicioso.

Aproveitei o resto da tarde para descobrir a pé os arredores do hostel: a zona de "Erzsébetváros" e o Bairro Judeu.











A cidade estava tranquila naquele Domingo de Junho e as pessoas aproveitavam o calor daquela tarde de Verão, apesar do céu parcialmente nublado, que ia deixando entrever o sol de tempos a tempos. A primeira impressão da cidade foi muito boa. Budapeste é uma cidade jovem e vê-se que todos a aproveitam da maneira que mais gostam. Há cafés e esplanadas cheias onde não faltam os bons petiscos e a cerveja fresca, há parques com relva verdejante que serve de colchão para muitos, há lojas vintage com raridades que não se encontram em lado nenhum, há chafarizes que aliviam o calor de uma tarde de Junho. Apesar dos transportes públicos funcionarem muito bem, a bicicleta é um meio muito utilizado pelos húngaros, que insistem em andar em duas rodas mesmo que a cidade não esteja muito bem preparada com ciclovias.







Pelo caminho, encontrei este "mini Oktorberfest" ou festival da cerveja. Um local muito agradável e de convívio entre todos, regado a música e a cerveja.






Feira de design









Dia II:

O segundo dia em Budapeste começou com uma chuva chata, frio, um guarda-chuva dos chineses, e um vento matreiro que o levou. Ainda assim, foi um dia bonito. Começámos por visitar a "Basilica of St Stephen". A imponente catedral é a igreja católica mais importante de toda a Hungria, e preserva a mão direita mumificada de São Estevão.
















Deixando a basílica para trás, continuámos o percurso em direcção ao rio Danúbio. Caminhando à margem do rio, e com vista privilegiada para o lado de Buda, iríamos eventualmente encontrar o ex libris de Budapeste: o Parlamento.









"Shoes on the Danube Memorial":
memorial aos judeus húngaros mortos e atirados ao rio pelo partido fascista em 1944










O segundo dia era uma segunda-feira, o que dificulta os planos de visitas a museus e monumentos, uma vez que grande parte deles se encontra fechado. Contudo, o nosso útil guia de Budapeste da "Lonely Planet" tinha-nos indicado que o Parlamento estaria aberto, o que não foi o caso. Mudança de planos: entrámos no metro e voltámos ao Bairro Judeu, onde fomos visitar a "Great Synagogue".

As escadas rolantes do metro movem-se extremamente rápido,
por isso entrar ou sair delas é uma autêntica aventura





A Grande Sinagoga inclui também o "Museu Húngaro dos Judeus" e o "Memorial ao Holocausto".


Os judeus colocam pedras nos túmulos em vez de flores







Dos monumentos aos espaços verdes, da História à Natureza. Budapeste tem um pouco de tudo e parece-me improvável não agradar a toda a gente. Seguimos então, ainda com as nuvens e a ameaça de chuva sempre a pairar sobre nós, para a "Margaret Island". A pequena ilha fica situada no meio do Danúbio e parece um gigante pulmão verde no meio do rio. Há partes da ilha onde só circulam pedestres e ciclistas. Por isso, alugámos uma bicicleta e durante uma hora percorremos o parque e perdemo-nos por entre ruínas, lagos e pontes. Os húngaros aproveitam a "Margaret Island" para fazer exercício físico, passear e fugir ao asfalto da cidade. Na ilha há também um pequeno jardim zoológico com alguns animais.


"Margaret Bridge"














De volta à agitação da cidade, passámos pela Estação de Comboio Keleti. Tínhamos visto apenas o exterior da estação quando passámos no eléctrico e achámos que valia a pena uma paragem para conhecermos o local de partida para várias cidades europeias.









Seguimos a pé em direcção à "Andrássy út". A grande avenida (2,5km) faz parte do Património Mundial da Unesco e é um bonito percurso para se fazer a pé. A "Andrássy út" está cercada de edifícios impressionantes, lojas de marcas internacionais, restaurantes importantes. Aqui fica também a "Opera House".

"Drechsler House"
"Opera House"










O dia terminou num dos muitos "Garden clubs" que existem na zona de "Erzsébetváros". Estes bares parecem montados no quintal da avó por terem um ambiente tão familiar e acolhedor, e são um óptimo local para conviver e beber um copo numa noite de Verão. 





Dia III:

Ao terceiro dia, deixámos Peste e fomos finalmente conhecer Buda. Decidimos fazer um percurso sugerido pelo guia Lonely Planet que começa na estação de metro de "Széll Kálmán Tér" e vai em direcção a "Castle Hill", terminando no "Royal Palace". Depois de nos termos perdido um pouco logo no início do percurso porque o mapa omitia algumas ruas ali à volta e ninguém nos sabia indicar a direcção correcta, ou porque não sabiam de facto ou porque não falavam inglês. Enfim, lá conseguimos perceber que não iríamos conseguir escapulir-nos à subida íngreme que tínhamos pela frente. Ao contrário de Peste, que é praticamente plana, o lado de Buda é muito montanhoso.

"Vienna Gate"

"National Archives"









"Matthias Church" lado a lado com o Hotel Hilton



O Parlamento visto de Buda

A Basílica vista de Buda

Obrigada Lonely Planet!















Até ao "Royal Palace" são cerca de 1.5km. O palácio já foi destruído e reconstruído pelo menos seis vezes nos último séculos e foi residência de vários reis. Hoje, alberga dois importantes museus, a "Hungarian National Gallery" e o "Budapest History Museum", para além da Biblioteca Nacional, várias estátuas e fontes.



"Royal Palace"















Escolhemos visitar o "Budapest History Museum". São 2000 anos da História de uma cidade distribuídos por quatro pisos.








A descida foi bem mais fácil. Usámos o "Sikló" ou funicular, em português. A viagem é curta, mas a vista sobre o Danúbio vale muito a pena. O funicular pára mesmo em frente à "Chain Bridge".

Vista do funicular

"Chain Bridge"

Depois de repormos as energias durante o almoço, seguimos para mais uma subida olímpica pelo monte "Gellért" até ao "Liberty Monument", bem lá no topo. A subida é dura, mas a vista sobre o rio e de Peste vale cada gota de suor.


"Liberty Bridge"

"Gellért Baths"








"Citadella"



"Liberty Monument"
"Liberty Bridge"
"Liberty Monument"
"Royal Palace"

A noite foi caindo lentamente em Budapeste. O sol deu lugar à lua e a cidade auto-iluminou-se. Mas este dia que parece que teve mais de 24 horas ainda estava longe de terminar. Tínhamos encontro marcado do lado de Buda para partirmos num cruzeiro nocturno de cerca de uma hora e meia. O percurso inclui as quatro pontes mais importantes que ligam Buda e Peste: da "Margaret Bridge", passando pelo edifício iluminado do Parlamento, até para lá da "Liberty Bridge".


Parlamento

"Royal Palace"
"St Gellért Monument"



Dia IV:

Ao quarto dia, fizemos uma nova investida ao Parlamento. Será que foi desta que conseguimos entrar? Claro que não. Queríamos ir na visita guiada das 10h, mas já estava esgotada. Comprámos para as 15h. Conselho: reservem o bilhete para o Parlamento antecipadamente. Há desconto para cidadãos da União Europeia e para estudantes. Enquanto esperávamos, fomos visitar o Mercado, perto da "Liberty Bridge".






Mercado




Almoço: a especialidade húngara "Lángos", uma espécie de pão frito
com o que lhe quisermos colocar em cima, pode ser doce ou salgado


À terceira foi de vez, e conseguimos finalmente entrar no tão aguardado Parlamento. Valeu a pena a espera. Os vitrais, os tectos, os candelabros, foi tudo pensado ao pormenor e tem tudo um aspecto de extrema ostentação.











Depois do Parlamento, seguimos para o "City Park". Budapeste é uma cidade com muitos espaços verdes, muito bem conservados e aproveitados pelos seus habitantes. Este parque é o maior e com mais atracções e actividades. Há pessoas a praticarem vários desportos ao ar livre, há museus ("Museum of Fine Arts" e "Palace of Arts"), há restaurantes e cafés, há um parque de diversões, há um jardim zoológico, há as termas "Széchenyi". E há simplesmente um relvado imenso para nos deitarmos e aproveitar uma tarde solarenga.

"Museum of Fine Arts"

"Heroes Square" e "Millenary Monument"
"Palace of Arts"





"Hungarian Agricultural Museum"



Budapeste é conhecida pelas suas termas. Na verdade, a cidade é um spa gigante, por isso ir a Budapeste e não experimentar uma das muitas piscinas de água naturalmente quente é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa. Os "Széchenyi Baths" ficam no "City Park", são sempre mistos, ao contrário de outras termas que têm diferentes horários para homens e mulheres, e a temperatura da água pode chegar até aos 38º C. Como se isto tudo não bastante, a arquitectura do edifício é impressionante e data de antes da I Guerra Mundial.

"Széchenyi Baths"








A parte mais gira é esta espécie de caracol que nos puxa e faz-nos andar às voltas

Dia V:

No último dia, houve ainda tempo para visitar um dos locais que tinha mais curiosidade em entrar: a "House of Terror". E desengane-se quem pensa que é um parque de diversões com fantasmas e vampiros. É uma casa dos horrores de verdade, onde foram cometidas enormes atrocidades. As paredes (duplas, para calarem os gritos) deste edifício foram um dia testemunhas de interrogatórios, torturas  e assassinatos  daqueles que se opunham aos regimes fascista húngaro e ao Estalinismo. A "House of Terror" foi a sede do polícia secreta ÁVH, uma espécie de PIDE na Hungria. O museu tem um ambiente pesado e a banda sonora que nos vai acompanhando pelas salas também contribui em muito para isso. Deambulámos pelas salas em silêncio absoluto, numa espécie de marcha fúnebre. Destaco especialmente a visita às celas dos prisioneiros e a galeria de fotos das pessoas que ali foram torturadas e algumas mortas. Não é possível fotografar.







Antes das despedidas finais, mais um almoço húngaro para levar no palato os sabores de Budapeste.



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