sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Do outro lado do mundo

Nove horas de viagem. Sim, foram precisas nove horas de avião para chegar a Jacarta, na Indonésia. Um voo nocturno, nove horas sem dormir, portanto.

Quando cheguei a Jacarta queria conhecer tudo, absorver de um só trago tudo o que aquela cidade tinha para me oferecer. Não consegui. Deixei-me vencer pelo cansaço e pelo calor húmido e abafado que se fazia sentir naquela tarde dos últimos dias de Janeiro. Fui para o hotel e dormi. Dormi até que os meus olhos tivessem energia suficiente para explorar tudo à minha volta.

19h30 foi a hora combinada para nos encontrarmos na recepção do hotel para irmos jantar num restaurante muito conhecido cujo o nome não ficou na minha memória porque... já lá chegaremos! Eram precisos três táxis (o único meio de transporte aconselhado pelos locais, parece que os autocarros não funcionam lá muito bem) e dinheiro para pagar a viagem! A moeda é a rupia indonésia e o primeiro contacto com o dinheiro local foi muito confuso. "Mas então se eu levantar 100.000 rupias do meu cartão não vou ficar sem o meu salário todo?", pensava eu. "Não, Ângela, 100.000 rupias são só 6€!", responde-me o conversor de moedas. Dinheiro local na carteira, vamos então para o restaurante. O tráfego é intenso e não parece haver qualquer ordem, mas os indonésios parecem entender-se no meio daquela desordem, com motas a tentarem esgueirar-se pelo meio dos carros. Mais: conduzem do lado esquerdo da estrada e com o volante do lado direito, como os ingleses. Conseguimos chegar ao restaurante sãos e salvos, mas estava fechado! Bolas! Era a noite de passagem para o ano novo chinês. Nada a fazer. Voltámos para o hotel e fomos directos ao restaurante, onde o buffet, especialmente dedicado à gastronomia chinesa, fez-me esquecer por completo o azar com o outro tão afamado restaurante. Bem, horas de subir ao quarto e dormir... O hotel era o Sheraton Bandara, por isso supor-se-ia que seria muito bom, mas na verdade os seus tempos glórios devem ter ficado algures nos anos 80. O cheiro a madeira apodrecida, o ar condicionado que tudo o que fazia era um barulho ensurdecedor, o cheiro intenso a algo que não é aberto desde o Natal de 2000. E a cereja no topo do bolo: uma lagartixa a explorar o meu quarto às 22h30. O primeiro dia não me fez adorar Jacarta, mas a cidade ainda tinha mais um dia para se redimir e me fazer apaixonar por ela.

No segundo dia acordei cedo. Queria aproveitar ao máximo o tempo que ainda tinha, esquecer o dia anterior e recomeçar do zero em Jacarta. Combinei encontrar-me com um colega na recepção do hotel às 9h15 para irmos até à cidade, que, segundo nos informaram, ainda ficaria a uns 45 minutos de distância, dependendo do tráfego. Esperei até às 9h30. Não apareceu. A vontade de ir explorar a cidade era imensa, mas havia um certo medo: seria uma cidade segura para uma mulher andar sozinha? Recebi um papel escrito com algumas informações importantes sobre o hotel e a cidade onde me aconselhavam a não usar jóias em excesso, a não expor a carteira em público, a não andar pela cidade depois do pôr-do-sol, a não confiar nas pessoas. Confesso que ainda fiquei uns minutos a pensar nesses conselhos: vou, não vou, vou, não vou. Que se lixe! Vou!

Pedi ao senhor da recepção algumas sugestões de sítios para visitar, tendo em conta o pouco tempo que tinha. Sugeriu que eu visitasse o Monumento Nacional (conhecido como Monas) e o parque que o rodeia. Não pesquisei nada sobre a cidade, por isso estava completamente aberta e sem expectativas. O taxista que não falava muito bem inglês (aliás, como a grande maioria da população com a qual tive contacto durante a minha curta estadia). Mas ainda assim, falou-me da família, da sua religião (era muçulmano, como a grande maioria dos indonésios), das cheias que assolam a região de tempos a tempos. E ensinou-me algumas palavras em indonésio, das quais infelizmente só retive: "Apa kabar?", que é como quem diz "como estás?".

Obrigada, senhor taxista simpático!


Entrei no parque. Parecia enorme e ao fundo lá estava o Monumento Nacional, grande e imponente. Havia pessoas em todos os cantos a venderem roupa, sapatos, comida, tudo e mais alguma coisa, em bancas ou no chão. Mal entrei comecei a sentir que todos os olhares estavam postos em mim e os vendedores começaram a chamar-me para que eu fosse ver o que tinham para me vender. Já fui a feiras e mercados em Portugal e noutros lugares do mundo, onde os vendedores abrem uma espécie de caça ao comprador, mas inexplicavelmente toda aquela atenção centrada em mim deixou-me desconfortável e amedrontada. Voltei a pensar na folha com os conselhos.


Continuei a caminhar em direcção ao Monumento Nacional, indiferente aos apelos dos vendedores de rua... "Posso tirar uma foto contigo?", pergunta-me inesperadamente uma jovem na casa dos 30 anos. "Não!", respondo bruscamente. Ela sorriu, comentou qualquer coisa com as amigas e foi-se embora. Continuei a andar e a pensar no que acabara de acontecer: "Terei sido demasiado brusca com ela? Sou capaz de ter roçado a má-educação. Não, não, não! Fizeste bem. Com certeza este é mais um estratagema montado para assaltarem os turistas..." Uns metros à frente, os meus pensamentos são interrompidos por dois miúdos com cerca de 15 e 10 anos: "Posso tirar uma foto contigo?". "Está bem", acedi. Afinal eram só uns miúdos, que mal poderia fazer uma fotografia? "Mas porquê?", perguntei. Não responderam, talvez não tivessem sequer percebido a pergunta. Sorriram timidamente e foram-se embora.


Não subi à torre porque naquele dia a parte mais alta estava fechada, por isso só daria para subir até à varanda mais baixa e a vista não seria tão espectacular. Fica para uma próxima viagem a Jacarta. Enquanto isso, as solicitações para tirarem fotografias comigo iam sucedendo e a minha cara ficou registada na câmara de todos: tirei fotos com crianças, velhinhas, vendedores ambulantes, famílias que passeavam pelo parque.

Bando de crianças que se juntaram a mim para uma "selfie"

A Elsa (do meu lado esquerdo) e os amigos que vieram ter comigo logo depois de me ter sentado para uma curta pausa

Sempre quis ter uma bicicleta destas!

Mas o porquê de toda esta atenção continuava a intrigar-me e por isso continuava a perguntar de cada vez que me pediam para tirar uma fotografia com eles porque o faziam. Uns respondiam: "Porque és bonita!", outros encolhiam apenas os ombros e sorriam. Foi inevitável reflectir que o estereótipo de beleza que impera ainda é o ocidental: as actrizes de Hollywood que lhes entram pelas salas de cinema dentro, as estrelas da pop que vêem na MTV, as modelos famosas nas capas de revistas de moda. Porque afinal de contas eu era só mais uma miúda como elas, apenas mais branca e com os olhos redondos.

Parecia que tinha sido há imenso tempo que uma rapariga ocidental entrara naquele parque com um olhar cabisbaixo e desconfiado. Agora falava com toda a gente, perguntava "apa kabar?" a todos, perguntava o que estavam a comer, respondia às habituais perguntas "de onde és?", "o que te trouxe cá?", "o que estás a achar disto?" de sorriso aberto.

Motas e mais motas, o meio de transporte preferido dos indonésios
A alimentar os axis-axis






















O autocarro-casa-de-banho



A provar baso... Picante!!!







Namorar em Jacarta







A sesta do meio-dia






De volta ao hotel, queria provar um prato indonésio. A comida é bastante picante, pelo menos para o meu paladar extremamente sensível, por isso tive o cuidado de pedir sem picante. Já nem pergunto se é picante ou não, porque para eles nada é exageradamente picante. Por sugestão do empregado de mesa, decidi provar:

Emping melinjo (uma espécie de crackers) com molhos extremamente picantes para mim

Chicken ayam com mie goreng (fried noodles) e um sumo de melancia

Cheguei ao fim da viagem com a sensação de que ainda há muito mais para ver, por isso até dia 11 de Fevereiro, Jacarta!

1 comentário:

  1. adoroooo! Estou cheia de vontade de ir a Jacarta também :D As fotos estão espectaculares.

    It's good to know you're having fun :D

    *

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